A REPRESENTAÇÃO NO
PROCESSO DEMOCRÁTICO
O
indivíduo se reconhece como membro de uma comunidade a partir das ligações e
funções que estabelece e assume em conjunto. Sua participação em sociedade se
estabelece a partir de diversas formas, explícita, implícita, dinâmica,
volátil, ativo, fluente. Sua presença, ou ausência traz reflexo para toda a
sociedade. No que diz respeito a sua
inserção em sociedade democráticas é
preciso ter presente que suas relações se apresentam e se organizam pela
representação legitimada pelo exercício do voto e, regulada por leis. As leis,
surgem a partir de demandas dos cidadãos, a partir dos quais se estabelecem
convenções e elaboração das mesmas.
A
ação em conjunto onde se pensa a coletividade é a base do sistema democrático.
Sua organização é legitimada pelo sufrágio universal, onde os cidadãos elegem seus
representantes para ocupar o governo do se concentra Estado, seja em âmbito
executivo, legislativo. No decorrer do tempo histórica, a democracia em seu
sentido original originário da Grécia Antiga na forma da participação direta modificou-se,
assim como a participação dos cidadãos e o sentido de reconhecimento depositado
no Estado.
O
poder soberano de Estado se utiliza da democracia como forma ou técnica de
governo para legitimar o poder. Dessa forma, a performance do mesmo como
representação de todos passa a ser “encenação política” como aponta o filósofo
Denis Rosenfield. Este efeito é devastador para o desenvolvimento do país, da cidadania
e das instituições. Também coloca a liberdade política como exercício duvidoso,
pois, sua articulação não supre as necessidades simbólicas e materiais da
sociedade, originando governos que concentram o poder nas mãos de determinados
grupos na proteção de seus interesses privados, ou governos totalmente
autoritários constituindo-se no governo de minorais no exercício da soberania sobre
a maioria.
Sob
tais pressupostos, a democracia fornece aos membros da sociedade a ilusão que
ele pode conduzir os negócios públicos através do seu voto. A primeira vista
ela demonstra abertura para inserção de qualquer membro, ou seja, o direito
político passa a ser uma condição aberta à todos. Contudo os seres humanos
envolvidos na democracia ao longo da história sofrem modificações, desde o
interesse pela política até a efetiva participação nela. Alguns então tornam se
apolíticos em virtude de desilusão dos homens em relação a promessas não
cumpridas, sonhos não realizados, contribuindo para apatia política.
É
interessante lembrar que a democracia tem como objetivo principal alçar o
indivíduo da sua vida cotidiana, dos interesses individuais, mostrando a ele o
bem coletivo para amplitude e interesse de todos, do bem comum. Essa
responsabilidade não é por todos aceita, em virtude das contradições em
reconhecer que as decisões tomadas pelo Estado são reguladas pela atitude
daqueles que são votados, eleitos e legitimados pelo processo democrático.
O
voto é a reflexão e manifestação da sociedade envolvida no processo de
definição do que é necessário para a mesma. Reflete a decisão em relação a
atitude e condição representativa. Porém, a apatia política revela a falta de
reflexão e a ausência de representatividade concedida através do voto. A
obrigatoriedade do voto conota a metáfora da moeda que possuí dois lados, pois,
origina pessoas desinteressadas pela política que irão às urnas apenas para
cumprir obrigação, e também pode ser o único momento em que essas mesmas
pessoas talvez pensar na importância política, ou melhor da decisão política.
Há
uma dupla representação no que se refere a simbologia da ideia da política e da
democracia. Por um lado a projeção de um futuro e, por outro negação da
realidade. O caminho transita ao oposto de cada corrente, de cada projeção a
medida em que não há ideia, projeção e, sim negação da realidade. É como se o
cidadão perdesse o objetivo e a finalidade da democracia e, buscasse a negação
do que ela pode ser afirmando que não eram atores, que não fazem parte daquilo,
das consequências envolvidas nas decisões da maioria.
O
desenvolvimento de um pensamento crítico é a única forma de talvez buscar
compreender a forma do que se apresenta como democracia. Uma noção, ou
percepção inicial abstrata, porém concreta na realidade de conformação do
espaço público.
O
que pode estar oculto diante de muitos olhos é a falsa sensação de autoridade,
vinda de baixo, hierarquia ao contrario, onde a massa de indivíduos escolhe os
representantes que exercerão o poder político do Estado. Porém, o que é
invisível diante de alguns olhos é a forma como essa pirâmide se constitui, não
que assembleias e convenções sejam secretas, mas que essa articulação não se
posiciona com todos envolvidos, pois, nem todos se envolvem, no sentido de
fazer a reflexão do poder concedido ao representante e a responsabilidade
assumida para si sobre tal decisão.
O
não envolvimento de alguns no processo, faz com que a democracia representativa
corra o risco de perder sua dinâmica e legitimidade, a medida em que o cidadão
não se reconhece no conjunto de normas, regras e leis em que está envolvido. A
essência da democracia é a participação de todos no processo de decisão e
escolha.
Ao
pensar o real sentido da democracia e o que é vivenciado de fato, pode se dizer
que houve várias mudanças tanto no conceito quanto na prática ao longo dos anos,
e o espaço no qual a democracia é aclamada demostra o resultado de contrapontos,
de contrapesos entre grupos e interesses como forma de afirmação da democracia.
O
questionamento central da filosofia política clássica, onde se indaga qual é a
melhor forma de governo, continua a ser viva e atual. Pois, a real democracia
modificou-se de tal maneira que os cidadãos que nela deveriam ser representados
não se reconhecem mais, e alguns se demonstram alheios as decisões sócias
advindas de práticas e técnicas de governos democráticos. A democracia que
antes era a forma de governo de todos torna se o governo de alguns, mesmo que a
representação ainda seja de todos, nem todos são ou se sentem efetivamente
representados por ela.
Luana de Oliveira
Acadêmica de Ciências
Sociais da Universidade do Contestado -
UnC
Pesquisadora PIVIC/UnC
Membro do Grupo de
Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben – CNPq
Sandro Luiz Bazzanella
Professor Filosofia
da Universidade do Contestado - UnC
Coordenador Programa
de Mestrado em Desenvolvimento Regional
Líder Pesquisador PIVIC/UNC
Líder do Grupo de
Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben - CNPq
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