¿ DO IMPEACHMENT DE DILMA OU DE INCONSISTÊNCIAS... ?
A
crise da economia-política em que estamos inseridos tem a cara, as cores e o
jeitinho brasileiro. Constituímo-nos como uma sociedade que desconhece suas
raízes. Não nos conhecemos. Esforçamo-nos para justificar uma pretensa
identidade nacional no bojo de uma miríade de etnias, crenças e tradições
significativamente diferenciadas e, espalhadas num país de extensão
continental. Até pouco tempo nos escondíamos no mito da “democracia racial”. O
povo brasileiro acolhe e respeita as diferenças étnicas desde que cada um saiba o lugar que ocupa. Enchia-nos de orgulho o anuncio do fato de que somos um povo acolhedor. No cotidiano somos um povo violento. Tal condição se expressa no trânsito, no número de mortos a cada fim de semana, feriado, ou fim de ano. As estatísticas são implacáveis. Em certas ocasiões ultrapassamos com folga o número de mortos nos atentados terroristas em Paris em novembro do corrente ano. O país do carnaval, já foi o país do futebol, da cordialidade. Há uma guerra civil em curso no seio da sociedade brasileira.
povo brasileiro acolhe e respeita as diferenças étnicas desde que cada um saiba o lugar que ocupa. Enchia-nos de orgulho o anuncio do fato de que somos um povo acolhedor. No cotidiano somos um povo violento. Tal condição se expressa no trânsito, no número de mortos a cada fim de semana, feriado, ou fim de ano. As estatísticas são implacáveis. Em certas ocasiões ultrapassamos com folga o número de mortos nos atentados terroristas em Paris em novembro do corrente ano. O país do carnaval, já foi o país do futebol, da cordialidade. Há uma guerra civil em curso no seio da sociedade brasileira.
Desconhecemos
a origem patrimonialista, clientelista e fisiológica de Estado brasileiro.
Desconhecemos as origens de nossas instituições e, sobretudo de nossas
contradições. Desconhecemos, ou desconsideramos o fato de que ao longo destes
quinhentos anos nos movimentamos por ciclos políticos e econômicos de curta
duração. As noções e, sobretudo as diferenças entre público e privado não se
apresentam no imaginário do povo brasileiro. O afã dos indivíduos, de famílias
e de grupos em levar vantagem em tudo, em enriquecer à custa do erário público
desconsidera a condição ontológica de qualquer sociedade que almeja tornar-se
uma civilização consistente, a preservação dos interesses públicos, o
comprometimento com aquilo que é de todos, com o espaço público.
Ser
funcionário público. Alcançar a estabilidade no emprego. Receber altos salários
em funções burocráticas improdutivas. Rechaçar qualquer forma de avaliação da
função desempenhada. Desconsiderar o cidadão comum usuário de serviços públicos
é a regra e, nos parece que sempre foi a regra pela qual a sociedade brasileira
se guiou e, ainda se guia. O gigante
adormecido continua alimentando os sonhos das jovens gerações que adentram nas
universidades em busca do sonho do concurso público para adentrar na máquina
burocrática e improdutiva do Estado. Este hábito incorporado no ethos da sociedade brasileira penaliza o
trabalho produtivo, a criatividade, o empreendedorismo. Desconfia da iniciativa
dos indivíduos. Cerceia o trabalho, aniquila o mérito. A malandragem, o
apadrinhamento, a indicação é a regra.
A
despeito de todas estas características somos um povo messiânico. Diante dos
esgotamentos dos ciclos de financiamento da máquina estatal entramos em
desespero, ou melhor, demonstramos nossa incapacidade de compreender o que de
fato aconteceu, ou esta acontecendo. A
razão nos abandona. Somos tomados pela irracionalidade, pelas paixões, pelos
xingamentos e ofensas pessoais as lideranças. Tudo se passa como se após
décadas acordássemos de um sono profundo e, nos déssemos conta de que tudo
estava errado. Sem capacidade para compreender as questões estruturais,
anseia-se por soluções conjunturais, por um novo “salvador da pátria”, por uma
nova esperança, por um novo líder que nos diga o que fazer, para onde ir, ou
como nos salvar, mesmo que se tenha presente que o novo messias também não
saiba adequadamente para onde ir. Mesmo que lhe falte uma proposta política
adequada, consistente. Mas, basta sua retórica apocalíptica associada ao
anúncio fácil do Oasis por vir, logo a frente.
O
desconhecimento da sociedade brasileira em relação a economia-política que
fundamenta seu modelo de Estado patrimonialista, clientelista e fisiológico é
tamanho que beira ao ridículo, ao grotesco.
Desconsideram que o uso da máquina pública para locupletar interesses
privados, de grupos, de setores privilegiados é a condição sine qua non desta sociedade. Caixa de campanha com o desvio de
recursos públicos de estatais é condição necessária do nosso sistema político
partidário de “Cabral aos turbulentos dias que correm”. Desconsideram o fato de
que a paralisia das principais instituições proativas na definição dos rumos
políticos e econômicos do país: “legislativo e executivo” estão
paralisados. Ou dito de outra forma, de
que a paralisia do executivo, em função do modelo de presidencialismo de
coalizão, que se instaurou no país após a abertura política no inicio dos anos
80 do século XX está vinculado as pirraças, senão irresponsabilidade do poder
legislativo. O poder legislativo que se
constitui como representante dos interesses da sociedade brasileira está interessado
em negociatas por cargos nos ministérios, nas autarquias públicas, nas empresas
estatais, no usufruto ao “modo tupiniquim” de verbas parlamentares, na
dissimulação de acusações de corrupção nas empresas estatais, entre outras
situações.
Utilizemo-nos
do chavão comercial: “Numa crise é preciso reconhecer oportunidades”. Talvez
esta seja mais uma oportunidade para a sociedade brasileira em sua totalidade
se convencer de que estudar é preciso, de que sem uma educação de qualidade
continuaremos no lamaçal em que estamos inseridos historicamente. Sem educação
continuaremos reclamando de má sorte na vida. Sonhando com os prêmios das
loterias que nunca chegam. Sem educação continuaremos mergulhados em nossa
mediocridade e, de tempos em tempos “suplicando” por um novo monge, por um novo
líder, por um novo salvador da pátria. A
crise nos abre a possibilidade de exigir do legislativo e do executivo as
inadiáveis reformas: Reforma educacional, Reforma política, Reforma tributária,
Reforma do pacto federativo. A crise nos apresenta a possibilidade de exigir
maior eficiência, produtividade e, responsabilidade com bem público. A crise
pode nos permitir enxergar que as instituições reativas, entre elas: “Supremo
Tribunal Federal”, “Polícia Federal”, entre outras não tem condições e não é
adequado que decidam as questões de interesse da nação brasileira. Esta tarefa
é nossa, de cada cidadão que trabalha, paga seus impostos corretamente e,
demonstra zelo pelo espaço público. Todo
o resto é encenação, lixo político, corrupção e, demonstração de imaturidade
civilizatória.
Professor Sandro Luiz Bazzanella
Professor de Filosofia
Universidade do Contestado
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