segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

¿ DO IMPEACHMENT DE DILMA OU DE INCONSISTÊNCIAS... ?


¿ DO IMPEACHMENT DE DILMA OU DE INCONSISTÊNCIAS... ?
             A crise da economia-política em que estamos inseridos tem a cara, as cores e o jeitinho brasileiro. Constituímo-nos como uma sociedade que desconhece suas raízes. Não nos conhecemos. Esforçamo-nos para justificar uma pretensa identidade nacional no bojo de uma miríade de etnias, crenças e tradições significativamente diferenciadas e, espalhadas num país de extensão continental. Até pouco tempo nos escondíamos no mito da “democracia racial”. O
povo brasileiro acolhe e respeita as diferenças étnicas desde que cada um saiba o lugar que ocupa.  Enchia-nos de orgulho o anuncio do fato de que somos um povo acolhedor. No cotidiano somos um povo violento. Tal condição se expressa no trânsito, no número de mortos a cada fim de semana, feriado, ou fim de ano.  As estatísticas são implacáveis. Em certas ocasiões ultrapassamos com folga o número de mortos nos atentados terroristas em Paris em novembro do corrente ano.  O país do carnaval, já foi o país do futebol, da cordialidade. Há uma guerra civil em curso no seio da sociedade brasileira.

Desconhecemos a origem patrimonialista, clientelista e fisiológica de Estado brasileiro. Desconhecemos as origens de nossas instituições e, sobretudo de nossas contradições. Desconhecemos, ou desconsideramos o fato de que ao longo destes quinhentos anos nos movimentamos por ciclos políticos e econômicos de curta duração. As noções e, sobretudo as diferenças entre público e privado não se apresentam no imaginário do povo brasileiro. O afã dos indivíduos, de famílias e de grupos em levar vantagem em tudo, em enriquecer à custa do erário público desconsidera a condição ontológica de qualquer sociedade que almeja tornar-se uma civilização consistente, a preservação dos interesses públicos, o comprometimento com aquilo que é de todos, com o espaço público.
Ser funcionário público. Alcançar a estabilidade no emprego. Receber altos salários em funções burocráticas improdutivas. Rechaçar qualquer forma de avaliação da função desempenhada. Desconsiderar o cidadão comum usuário de serviços públicos é a regra e, nos parece que sempre foi a regra pela qual a sociedade brasileira se guiou e, ainda se guia.  O gigante adormecido continua alimentando os sonhos das jovens gerações que adentram nas universidades em busca do sonho do concurso público para adentrar na máquina burocrática e improdutiva do Estado. Este hábito incorporado no ethos da sociedade brasileira penaliza o trabalho produtivo, a criatividade, o empreendedorismo. Desconfia da iniciativa dos indivíduos. Cerceia o trabalho, aniquila o mérito. A malandragem, o apadrinhamento, a indicação é a regra.
A despeito de todas estas características somos um povo messiânico. Diante dos esgotamentos dos ciclos de financiamento da máquina estatal entramos em desespero, ou melhor, demonstramos nossa incapacidade de compreender o que de fato aconteceu, ou esta acontecendo.  A razão nos abandona. Somos tomados pela irracionalidade, pelas paixões, pelos xingamentos e ofensas pessoais as lideranças. Tudo se passa como se após décadas acordássemos de um sono profundo e, nos déssemos conta de que tudo estava errado. Sem capacidade para compreender as questões estruturais, anseia-se por soluções conjunturais, por um novo “salvador da pátria”, por uma nova esperança, por um novo líder que nos diga o que fazer, para onde ir, ou como nos salvar, mesmo que se tenha presente que o novo messias também não saiba adequadamente para onde ir. Mesmo que lhe falte uma proposta política adequada, consistente. Mas, basta sua retórica apocalíptica associada ao anúncio fácil do Oasis por vir, logo a frente.
O desconhecimento da sociedade brasileira em relação a economia-política que fundamenta seu modelo de Estado patrimonialista, clientelista e fisiológico é tamanho que beira ao ridículo, ao grotesco.  Desconsideram que o uso da máquina pública para locupletar interesses privados, de grupos, de setores privilegiados é a condição sine qua non desta sociedade. Caixa de campanha com o desvio de recursos públicos de estatais é condição necessária do nosso sistema político partidário de “Cabral aos turbulentos dias que correm”. Desconsideram o fato de que a paralisia das principais instituições proativas na definição dos rumos políticos e econômicos do país: “legislativo e executivo” estão paralisados.  Ou dito de outra forma, de que a paralisia do executivo, em função do modelo de presidencialismo de coalizão, que se instaurou no país após a abertura política no inicio dos anos 80 do século XX está vinculado as pirraças, senão irresponsabilidade do poder legislativo.  O poder legislativo que se constitui como representante dos interesses da sociedade brasileira está interessado em negociatas por cargos nos ministérios, nas autarquias públicas, nas empresas estatais, no usufruto ao “modo tupiniquim” de verbas parlamentares, na dissimulação de acusações de corrupção nas empresas estatais, entre outras situações.
Utilizemo-nos do chavão comercial: “Numa crise é preciso reconhecer oportunidades”. Talvez esta seja mais uma oportunidade para a sociedade brasileira em sua totalidade se convencer de que estudar é preciso, de que sem uma educação de qualidade continuaremos no lamaçal em que estamos inseridos historicamente. Sem educação continuaremos reclamando de má sorte na vida. Sonhando com os prêmios das loterias que nunca chegam. Sem educação continuaremos mergulhados em nossa mediocridade e, de tempos em tempos “suplicando” por um novo monge, por um novo líder, por um novo salvador da pátria.  A crise nos abre a possibilidade de exigir do legislativo e do executivo as inadiáveis reformas: Reforma educacional, Reforma política, Reforma tributária, Reforma do pacto federativo. A crise nos apresenta a possibilidade de exigir maior eficiência, produtividade e, responsabilidade com bem público. A crise pode nos permitir enxergar que as instituições reativas, entre elas: “Supremo Tribunal Federal”, “Polícia Federal”, entre outras não tem condições e não é adequado que decidam as questões de interesse da nação brasileira. Esta tarefa é nossa, de cada cidadão que trabalha, paga seus impostos corretamente e, demonstra zelo pelo espaço público.  Todo o resto é encenação, lixo político, corrupção e, demonstração de imaturidade civilizatória.

Professor Sandro Luiz Bazzanella
Professor de Filosofia
Universidade do Contestado


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