
INDICATIVOS DE REFLEXÃO SOBRE ÉTICA E MORAL
É muito comum ouvirmos falar de vários
tipos de ética e da falta dela, principalmente na política. Ouvimos sobre ética
profissional, ética de grupos religiosos, ética de um povo, a tal ponto de nos
sentirmos confusos sobre como agir.
Vivemos em um mundo em que praticamente todos sentem e denunciam a “falta de
ética” ou uma “crise dos valores morais”. Mas, afinal o que seria ética? Para Selvino
Assmann, professor de filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) ética é compreendida como a teoria da moral, como filosofia da moral. Ou
seja, como o estudo racional sobre a experiência moral dos seres humanos. Assim,
surge outro problema: o que seria moral? Assmann dirá que moral vem de “mores”, termo latino plural que
significa costumes, hábitos, fazendo com que moral equivalha às atitudes e
normas que se estabeleçam como hábito de boa convivência, de bom comportamento.
A moral é mais específica e está no
cerne das atitudes humanas.
A moral, ou a moralidade é um fato
constatável em todos os tempos e em todas as comunidades humanas. Até hoje não
foi encontrada nenhuma sociedade sem moral, sem norma moral. Os seres humanos
não conseguem viver ou conviver sem uma norma. Além disso, moral é o
comportamento dos indivíduos em relação às regras e aos valores que lhes são
propostos. Este conjunto de regras pode ser formulado em códigos mais
explícitos ou até escritos como nas leis, mas não esqueçamos que as leis também
são criadas por seres humanos, que estão imersos em uma moral coletiva. A moral
também é transmitida de maneira difusa, por exemplo: na família, e como cada família é um núcleo
único, elas podem ou não ensinar os filhos com normas mais rígidas modificando a moral vigente. Sendo assim pode haver
regras que nem sempre são coerentes entre si, e desta incoerência surgem os
conflitos. Ao mesmo tempo, podemos entender como moral o comportamento real dos
indivíduos em relação às regras e valores que lhes são propostos.
Quando surge a moral? Para Assmann desde
que há civilização há moral há regras que regem o comportamento dos indivíduos
e dos grupos humanos. Neste sentido, o professor Assmann propõe questionamentos,
que alias são feitas por todos nós, como: “Não poderíamos viver, uns ao lado
dos outros, fazendo cada um aquilo que quer? Por que somos seres morais? Por
que temos que viver seguindo leis? Por que, afinal, fazemos o mal ou o bem ao
descumprirmos ou cumprirmos estas leis?”. Na última pergunta surge uma dúvida
ainda mais complicada de responder que seria: “o que é o mal e o que é o bem?”
Não são perguntas fáceis de responder, mas numa primeira tentativa Assmann dirá
que somos seres morais porque somos livres. Seres capazes de cumprir ou não uma
norma estabelecida. Só há, portanto, moralidade em um ato humano no qual existe
a possibilidade de escolha. Seguindo em busca das respostas temos que o ser
humano, no processo de ir se tornando humano, nos tornando seres morais.
Ninguém nasce sabendo que está submetido a regras. É com a educação, com a convivência com os adultos, que as
crianças são introduzidas na convivência humana, e com isso adquirem um senso
moral, um senso de limite, um senso de responsabilidade. Assim é óbvia a
importância do tipo de educação que os seres humanos recebem, para que se tornem
mais ou menos capazes de autonomia, capazes de se darem à lei, e para que se
sintam mais ou menos responsáveis por aquilo que fazem.
Partindo do pressuposto de que os seres
humanos não conseguem viver sem uma moral vigente, temos então que em toda a história
e no comportamento humano existiu uma moral. Para Assmann foram e são
apresentadas três fontes da norma moral. Em primeiro lugar, a moral dos
antigos. Para eles, a ética, cujo modo era a virtude e, cujo fim é a
felicidade, realizava-se pelo comportamento virtuoso entendido como a ação que
era conforme à natureza. Em segundo lugar – sobretudo falamos da Idade Média –
os seres humanos assumiram e assumem um código de regras estabelecido por um
ser superior, por Deus, e, assim, fazer o mal é, para os cristãos, descumprir
qualquer mandamento divino, mandamento que foi revelado por Deus. Em terceiro
lugar – falamos aqui dos modernos – a lei moral é estabelecida pelos próprios
seres humanos, através de hábitos estabelecidos nas coletividades, através de convenções
ou consensos, quanto aparecendo escrita nas constituições nacionais, em acordos
internacionais, na Declaração Universal dos Direitos Humanos promulgados pela
ONU em fins dos anos 40 do século XX.
A moral é, então, o que a soma dos
indivíduos estabelecem como lei para si a fim de se protegerem mutuamente, e de
não se prejudicarem reciprocamente, ou até para se beneficiarem. Outra forma de
buscar as respostas das intrigantes perguntas é que, ao mesmo tempo o dever
moral tem a ver com o fato de não vivermos sós, de não podermos ser livres
sozinhos, mas sempre na presença de outros seres humanos. Por isso Assmann dirá
que, só poderemos considerar como lei válida para nós se pudermos considerar
válida esta lei para todos os seres humanos. Poderíamos afirmar que isso
equivale ao nosso ditado popular: “não faça a outrem aquilo que não quer que
lhe façam”.Citando o filósofo de Königsberg Imannuel Kant (1724-1804), dirá que
na lei moral precisamos respeitar o outro, qualquer outro, pela sua dignidade
humana, independente do fato de ele ser bom ou mau. Nenhum ser humano pode ser
apenas um meio (“simplesmente como meio”) para mim, mas deve ser sempre um fim.
Dai advém que a escravidão é um ato moralmente repulsivo, pois se utiliza das
pessoas como meio para se ganhar dinheiro, mas e aquelas pessoas que vendem o
próprio corpo para poder conseguir dinheiro, estão ou não cometendo um ato
moral ou não? E aquelas pessoas que pagam por esse tipo de trabalho estão
cometendo atos morais, pois estão fazendo de outras pessoas como um meio para
ter prazer. São outras questões que conferem continuidade e intensidade ao debate.
Para encerrar, mas não finalizar o assunto
podemos ter morais diferentes, dependendo da situação histórica e cultural, mas
sempre serão válidas para um grupo social, uma comunidade humana, e para todos
os indivíduos que compõem tal grupo. Mais uma vez o professor Assmann dirá que
com facilidade, perceberemos que nem todos os valores são compatíveis entre si,
tornando complicada a convivência entre pessoas que adotam uma moral com
fundamentos diferentes. O que dizer dos atos terroristas do Estado
Islâmico?
Weslei Pauli
Acadêmico do Curso de Ciências Sociais
Orientador Prof. Sandro Luiz Bazzanella
Professor de Filosofia
Coordenador do Programa de Mestrado em
Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado
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