quarta-feira, 8 de junho de 2016

A PRESSÃO POLÍTICA SOBRE O SUPREMO, A PARTIR DA ANÁLISE DE DOIS ADVOGADOS



A PRESSÃO POLÍTICA SOBRE O SUPREMO, A PARTIR DA ANÁLISE DE DOIS ADVOGADOS

Gravações que mostram tentativas de interferir na Lava Jato colocam a discussão sobre a influência nas decisões da mais alta corte do país no centro do debate

As gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado tornadas públicas até agora mostram líderes do PMDB discutindo sobre como influenciar politicamente o Supremo Tribunal Federal na Operação Lava Jato.

Machado, um investigado na Lava Jato, procurou os peemedebistas para dizer que tinha medo de que seu caso fosse parar nas mãos de Sergio Moro, juiz que cuida da Lava Jato na primeira instância.
Ouviu do senador Romero Jucá, do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do ex-presidente José Sarney insinuações de que seria possível, sim, trabalhar para que o Supremo não envie seu caso à primeira instância. 
As teorias sobre possíveis interferências políticas na suprema corte não começaram com as gravações de Machado, mas ganharam força com elas. Os ministros são indicados pelo presidente da República e, para assumirem, precisam ter o nome aprovado pelo Senado Federal.

Dos 11 atuais ministros da Corte

  • cinco foram indicados por Dilma Rousseff (Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki e Luiz Edson Fachin).
  • três por Luiz Inácio Lula da Silva (Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Dias Toffoli)
  • um por Fernando Henrique Carodoso (Gilmar Mendes)
  • um por Fernando Collor de Mello (Marco Aurélio Mello)
  • um por Sarney (Celso de Mello)
Acerca da tentativa de influência política sobre as decisões dos ministros do Supremo, o Nexo conversou com dois advogados:
  • Roberto Dias, professor de direito constitucional da FGV e da PUC em São Paulo
  • Rodrigo Oliveira Salgado, professor de direito da Universidade Mackenzie

O Supremo é suscetível a pressão política?


ROBERTO DIAS “O STF tem todas as garantias constitucionais para não sofrer interferências indevidas. Por mais que a nomeação se dê por indicação e sabatina, o fato é que depois da posse os ministros gozam das garantias da magistratura que são fundamentais para que eles possam decidir com independência.
O fato de ter sido nomeado em determinado governo não quer dizer que sejam suscetíveis a pressões indevidas. Esse tipo de isenção a gente tem notado mesmo em casos mais complexos como o mensalão. Tentativas de interferências vão acontecer, a questão é como o STF responde a isso.”
RODRIGO OLIVEIRA SALGADO  “Sim, não só o brasileiro, mas qualquer corte que faça leitura da Constituição. A questão é como lidar com isso. A gente não tem tradição democrática, a política é malvista a priori. O STF faz interpretação da Constituição em um determinado momento em um determinado caso. É impossível que um ministro não se posicione.
A pressão é ilegítima quando não há transparência no processo. Tudo isso é um pouco de reflexo da falta de transparência do poder judiciário. Na medida em que as pessoas não entendem como funciona a lógica e acham que existe uma isenção natural, essa influência negativa é possível.”

Por que o tribunal aparece tanto nas conversas dos políticos que tentam interferir na Lava Jato?


ROBERTO DIAS “Porque efetivamente estão sendo tratadas questões sobre o mundo político. Se está se falando de um processo específico, por meio de advogados, isso é legítimo. Tentar interferir de outra maneira deve ser repelido. Vejo mais uma certa apreensão e uma certa insatisfação com as decisões do STF. As gravações mostram também uma tentativa de reversão da legislação que está sendo aplicada - como a delação. Do ponto de vista político, isso não me parece problemático.”
RODRIGO OLIVEIRA SALGADO “Primeiro por conta da natureza da nossa estrutura judicial, com o STF atuando em casos de quem tem prerrogativa de função. Segundo porque muitos dos ministros têm presença na vida política nacional e acabam se tornando agentes do processo político. Terceiro porque a sociedade precisa começar a entender que há uma espetacularização do processo judicial - desde o julgamento em primeira instância até as transmissões ultramidiáticas que começaram no mensalão. Essa preocupação que o ministro adquiriu de ser um agente mais social do que jurídico acaba o colocando em uma postura mais política.”

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