“AINDA NOS RESTAM AS PEQUENAS UTOPIAS QUE NOS AJUDAM A VIVER”

Crianças iraquianas no campo de refugiados de al-Hol, na Síria. DELIL SOULEIMAN AFP
Quem diz é o
filósofo espanhol Francisco Jarauta. No mundo de hoje, nada é como era antes. É
um laboratório onde todos os modelos políticos, éticos e morais precisam ser
repensados.
Poucos filósofos contemporâneos conhecem
tanto quanto Francisco Jarauta, catedrático de filosofia da Universidade de
Múrcia, antropólogo e especialista em História da Arte, os desafios e as
complexidades de uma sociedade globalizada em que, diz ele, “todas as certezas
do passado voaram pelos ares ao mesmo tempo”.
Ele considera que, se as grandes utopias morreram, ainda nos restam “as
pequenas utopias, as que nos ajudam a viver o cotidiano”, como a de poder morar
em um bairro onde todos se conheçam e sejam solidários uns com os outros, ou a
da busca pelo tempo livre e pelo silêncio criativo. A pequena utopia da
amizade, ou aquela capaz de transformar nosso trabalho e nossos sonhos em
fruição, em vez de pesadelos e escravidão.
Para o filósofo, a
emergência do Outro está se transformando em um laboratório onde “nossos
modelos políticos, éticos e morais precisam ser repensados”.
Como diretor do Conselho Científico do
Instituto Europeu de Design (IED) da Espanha, e membro do Conselho
Internacional do Grupo IED, hoje presente também no Brasil, com unidades no Rio
e em São Paulo, Jarauta, que ensina em várias instituições universitárias do
mundo, se nutre da experiência desses milhares de estudantes que formam um
caleidoscópio cosmopolita das tendências que estão forjando a nova civilização.
A esses jovens, que estão se graduando em
design industrial e gráfico, e como novos estilistas de moda, Jarauta
surpreende e estimula com suas metáforas e paradoxos. Como quando lhes diz que
“somos nossas próprias perguntas”, para acrescentar em seguida que “a
intensidade dos fatos condena essas perguntas ao silêncio”.
Escrutinador do caminho por onde vai a nova
civilização, Jarauta é também um intelectual que gosta de tomar o pulso da
humanidade. Depois de uma viagem recente a um campo de refugiados na Grécia,
declarou ao jornal O Globo que o mais
urgente hoje é “reconstruir o coração da humanidade”.
Para isso, afirma, “é preciso caminhar pela
viagem da vida”, onde existe a dor, a crueldade, a cegueira ante as tragédias
como as dos refugiados e imigrantes,
“esses novos párias da história”.
Em sua conversa, que tínhamos interrompido
durante muitos anos, desde nossos encontros no IED de Madri, ressalta que
“estamos na era do ‘pós’: a pós-verdade, a pós-democracia, a pós-política, a
pós-modernidade a pós-identidade. Nada é mais como ontem”.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/13/opinion/1489428472_963672.html
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