E OS POBRES SUSTENTAM O CASSINO
FINANCEIRO GLOBAL
Em três décadas, países
periféricos transferiram, para nações capitalistas centrais, US$ 10,6 trilhões
— trezentas vezes o PIB da Nicarágua. Paraísos fiscais são principal sangria.
Só China escapou.
Qual impacto que a fuga
não-registrada de capitais pode ter no desenvolvimento de um país,
principalmente nos mais vulneráveis e pobres? Qual o papel dos paraísos fiscais
na facilitação desse fluxo financeiro, que drena importantes recursos de
regiões inteiras do mundo? Para tentar responder a essas questões, o Instituto
de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em parceria com o Centro de Pesquisa
Aplicada da Escola de Economia da Noruega (SNF), a Global Financial Integrity
(GFI), Universidade Jawaharlal Nehru e o Instituto Nigeriano de Pesquisa Social
e Econômica, produziu o estudo “fFluxos Financeiros e Paraísos Fiscasis: Uma combinação para limitar a vida de bilhões de pessoas“, um extenso relatório em três partes que avalia o fluxo
líquido de recursos de entrada e saída de países em desenvolvimento, durante
o período de 1980-2012.
Entre as descobertas do estudo,
uma impressiona: os países em desenvolvimento, excetuando-se a China (que é um
ponto fora da curva), perderam um total de quase US$ 1,1 trilhões em
transferências registradas e US$ 10,6 trilhões a partir de fuga não-registradas
de capitais — desse último valor, mais de 80% (cerca de US$ 7 trilhões) saíram
por meios ilegais.
O relatório conclui, entre outros pontos, que a redução dos fluxos financeiros
ilícitos e regulação firme dos paraísos fiscais melhoraria a efetividade das
políticas macroeconômicas adotadas nos países em desenvolvimento e
contribuiria significativamente para reduzir a desigualdade socioeconômica.
A grande fuga de capitais dos
países em desenvolvimento diminui sua capacidade de crescimento, porque boa
parte desses recursos poderia ser usada em atividades econômicas destinadas à
melhoria do padrão de vida e à redução de desigualdades.
Uma das principais descobertas do
estudo é que na década de 1990 os países em desenvolvimento acabaram
financiando mais os países desenvolvidos do que o contrário — e isso justamente
por conta dos fluxos financeiros ilícitos e paraísos fiscais. “O fluxo de
recursos dos países mais vulneráveis para países ricos claramente confronta a
eficiência alocativa, que demanda fluxos em direção oposta. Em escala
global, essas alocações de recursos incorretas constituem custos sociais
consideráveis que seriam, neste caso, incorridos aos cidadãos de países em
desenvolvimento.”
Um estudo recente do Fundo
Monetário Internacional (FMI) descobriu que o fluxo de entrada de capitais
impacta positivamente o investimento doméstico em maior grau que fatores como
a qualidade institucional e o crédito doméstico. E como a fuga de capitais
drena recursos, é razoável pensar que tais fluxos de saída reduziriam o
efeito benéfico de fluxos de entrada sobre os investimentos domésticos.
Nossas descobertas, baseadas em dados limitados do FMI são consistentes com as
descobertas do Fundo em que mostramos que os fluxos de entrada de capital têm
impacto positivo no consumo, e que fluxos de saída ilícitos reduziriam os
impactos benéficos sobre o consumo e sobre o padrão de vida em países em
desenvolvimento pobres.
Fonte: https://outraspalavras.net/destaques/e-os-pobres-sutentam-o-cassino-financeiro-global/
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