PLÁSTICO
NOS OCEANOS: AS CORPORAÇÕES CULPAM VOCÊ
DRAMA ANTIGO: Em novembro de 2016 — bem antes do caso da Indonésia — 29 baleias foram
encontradas mortas no litoral da Alemanha, com grandes quantidades de plástico no estômago
Em Breve, haverá mais lixo que peixes nos mares, diz a
ONU. Coca, Nestlé e Danone, que inundam o planeta de embalagens descartáveis,
querem evitar, a todo custo, leis que as proíbam de poluir.
Uma baleia morreu com
40 quilos de plástico no estômago nas Filipinas, informou o New York Times
neste 18 de março. A notícia repercutiu amplamente, chegando aos quatro cantos
do planeta pela BBC, National Geographic, CNN, Fox, Washington Post etc.
“É apenas
uma das centenas que morrem todo ano, em todo o mundo”, afirma Darrell
Blatchley, fundador da ONG Museu colecionador de Ossos, naquele país. “A causa
final da morte desta jovem baleia-bicuda-de-cuvier que resgatamos no dia 16 de
março de 2019 são 40 quilos de sacos plásticos, incluindo 16 sacos de arroz,
quatro sacos usados em plantação de banana e várias sacolas de compras”, publicou a
página do Facebook do museu.
O alarme
pelo impacto ambiental do plástico sobre os oceanos cresceu enormemente nos
últimos anos. Segundo as Nações Unidas, em 2050 poderá haver mais plástico do
que peixes nos oceanos. No Pacífico, cerca de 1,8 bilhões de objetos plásticos ocupam uma
área de aproximadamente dois milhões de metros quadrados.
O Brasil
produz 11,3 milhões de toneladas de plástico por ano, o que significa que cada
brasileiro gera cerca de um quilo de lixo plástico por semana. Somente 1,2%
desse volume é reciclado. É o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo,
precedido apenas por Estados Unidos (70,8 milhões de toneladas), China (54,7
milhões) e Índia (19,3 milhões). Os dados são do relatório Global Plastics
Report, do WWF, divulgado no início de março.
Números
Pressionadas pela
opinião pública, multinacionais aceitaram pela primeira vez revelar a
quantidade de plástico que produzem anualmente. Assinaram o
Compromisso Global para uma nova economia do plástico, elaborado em março de
2019 pela Fundação Ellen MacArthur em colaboração com as Nações Unidas.
Os números
vão às alturas e as campeãs são nossas conhecidas: Coca-Cola, Nestlé e Danone.
O grupo Coca-Cola declara produzir por ano (incluindo a célebre bebida gasosa,
mas também suas outras marcas) não menos de três milhões de toneladas de
plástico. A Nestlé ocupa o segundo lugar mundial, com 1,7 milhões de toneladas.
E a Danone o terceiro, com 750 mil toneladas anuais, ligadas principalmente à
água engarrafada.
A conta,
feita pelo caminho inverso, chegou aos mesmos números. A coalizão internacional
de grupos ambientalistas Break Free from
Plastic (Libertar-se do plástico) pediu a milhares de
voluntários ao redor do mundo que, ao coletar lixo plástico, identificassem as
marcas ligadas aos resíduos.
O
resultado foi o mesmo: o lixo de marca registrada Coca-Cola é o mais
onipresente, seguido pelo da PepsiCo, Nestlé e Danone. Entre as multinacionais
que se recusaram a aderir ao compromisso de transparência estão a PepsiCo e a
L’Oréal, além de grupos do grande varejo.
Consciência
Até agora
os fabricantes e consumidores de plástico, da indústria química à
agroalimentar, desviavam a atenção de sua responsabilidade acusando os consumidores
individuais de não colocar seus resíduos no lugar “certo”. Essa é a mensagem,
por exemplo, da campanha francesa “Gestos Limpos”, atrás da qual
estão as mesmas Coca-Cola, Danone e Nestlé. É também o que mostra a pesquisa do
Observatório das Multinacionais em nível europeu.
Hoje, com
a elevação da consciência sobre o impacto ambiental do plástico, os fabricantes
apostam em iniciativas de “responsabilidade social” voltadas a projetos que
coletam lixo plástico de rios e oceanos ou apoiam alternativas como o
“bioplástico” ou a “reciclagem de plástico” – mas não atacam a raiz do
problema, ou seja, reduzir a produção e o consumo do plástico.
Referindo-se
a projetos como o da Fundação Ellen McArthur ou à Aliança para Acabar com a Poluição
Plástica, lançada em janeiro passado na França com as mesmas responsáveis
por entupir os mares de plástico, ONGs como a Break Free From Plastic uma
coalizão de 1700 organizações da sociedade civil em todo o mundo, observam que
um pacto voluntário não é suficiente para conter a crise, face à amplitude do
problema.
São
iniciativas muito tímidas, denunciam também as ONGs Zero Waste France
e Surfrider, apontando “a falta de meta quantificada para a redução das
quantidades de embalagens de plástico descartáveis” e o fato de ser um pacto
voluntário, que não se aplica a todos os atores econômicos. Como a Break
Free From Plastic , alertam os políticos responsáveis: os tempos não estão
mais para a adoção de adesões voluntárias, mas para medidas regulatórias,
nacional e internacionalmente, capazes de cortar pela raiz a crise da poluição
pelo plástico.
Publicado 28/03/2019 às 17:55 -
Atualizado 28/03/2019 às
Fonte:
https://outraspalavras.net/blog/plastico-nos-oceanos-as-corporacoes-culpam-voce/
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