Aspectos Para Uma Leitura das Eleições 2014
No
domingo 26.10, milhões de brasileiros voltam às urnas. Em alguns estados
votarão em segundo turno para governador e presidente da República. Independente dos resultados finais do segundo
turno, a democracia brasileira se fortalece superando contradições e paradoxos
inerentes a esta forma de governo caracterizada pela vontade da maioria. Mesmo
correndo o risco da precocidade da análise é possível estabelecer algumas
considerações em torno de determinadas especificidades, senão singularidades no
decorrer do processo eleitoral de 2014.
1º
A propaganda eleitoral inicia após a desastrosa participação da seleção brasileira
na copa do mundo, declamada, festeja pelos brasileiros amantes do futebol.
Afinal, a sede da copa era o Brasil. O técnico era o experiente e, bonachão
Felipão. Tínhamos o craque Neymar, que poderia desequilibrar a partida a
qualquer momento. A torcida cantava o Hino Nacional a plenos pulmões. Festa
verde/amarela. Mas, perdemos de 7 a 1 para Alemanha. Pensar é preciso. No
período pré-eleitoral, durante a definição das alianças partidárias e, das
candidaturas estávamos preocupados com as obras da copa, com os preparativos da
seleção. Iniciamos o processo eleitoral de ressaca, meio sem saber o que de fato
estava acontecendo. Talvez não estivéssemos afim de ouvir proposta política alguma
depois de tamanha decepção com nossa seleção.
2º
Nas primeiras semanas de campanha ocorre a trágica morte do candidato a
presidente da república do PSB, Eduardo Campos. Irreparável perda de liderança
política. Subitamente assiste-se a um fenômeno de comoção social que se
desdobra numa espécie de messianismo político, elevando à vice-candidata na
chapa do PSB, Marina Silva, a condição de candidata a presidenta, em substituição
ao então candidato falecido. Mariana, “a iluminada” é elevada a índices
eleitorais significativos. Projeta-se na candidata a almejada e sonhada
mudança. Naquele momento eleitoral, apresentava-se a possibilidade de segundo
turno com a candidata a reeleição, a presidente Dilma Russef. No bojo destes
acontecimentos, Aécio Neves estagnava nas pesquisas, bem como sinalizava para o
não alcance de sua candidatura no segundo turno.
3º
Talvez Marina Silva não estivesse preparada suficientemente para os fatos e
acontecimentos que a envolveram. Afinal, ela representa “A Rede
Sustentabilidade”, uma espécie de organização que se pretende constituir como
partido, abrigado temporariamente pelo PSB. Em seu discurso como candidata
assume três argumentos melindrosos: a) A indefinida proposta da sustentabilidade;
b) O escorregadio discurso da ética na política; c) A representante da “Nova
Política” , que em tese nasceria de uma junção da velha política do PT no
âmbito social e, da velha política do PSDB no âmbito econômico. É mais ou menos
como se um casal de 70 anos resolvesse ter um filho. Até é possível, mas a
situação apresenta-se dramática, estranha, fora de contexto. Não deu outra, a
candidata murchou como uma flor (FHC) e, permitiu que os eleitores vislumbrassem
em Aécio Neves a condição do segundo turno.
4º
Dilma Russef (PT) e Aécio Neves (PSDB) alcançam a condição da disputa eleitoral
para presidente em segundo turno. Polarização entre as duas siglas, que para
Marina Silva representam a velha
política. Estranho, mas também compreensível o pragmatismo político da
candidata da sustentabilidade, ao apoiar em segundo turno a candidatura de
Aécio Neves, classificado dias antes como representante de uma das alas da
velha política. Tal atitude demonstra que a nova política tem a necessidade da
velha política para tentar se afirmar. Ou ainda, pode-se conjecturar que a nova
política esta nascendo velha. A disputa do segundo turno apresenta-se acirrada.
Talvez desde 1989, ano em que Collor e Lula disputaram o segundo turno da eleição
presidenciável, não presenciávamos tamanha disputa. Enfim, viva a política. Na
clássica definição do jurista alemão Carl Schmitt: “Na política somente existe
amigo ou inimigo”.
5º Talvez se possa afirmar que a acirrada polarização eleitoral entre PT e PSDB apresenta-se como variável da mesma proposta do estado de bem-estar social, com algumas poucas diferenças programáticas. Porém, a contribuição que esta polarização eleitoral evidencia é a necessidade de intensificarmos os esforços em nos compreender como sociedade brasileira, na medida em que no calor do embate eleitoral ressurgem questões próprias do modo tupiniquim de ser, entre elas: o mito de nossa democracia racial; o mito do homem cordial; o fantasma do messianismo político; a tendência patrimonialista e clientelista do Estado brasileiro. Ainda nesta direção, quem vencer as eleições terá que enfrentar uma pauta política advindo das urnas: reforma política; reforma tributária; revisão do pacto federativo; meritocracia, eficiência, eficácia e, efetividade no serviço público; crise econômica mundial e, crescimento econômico nacional como garantia dos avanços sociais alcançados nos últimos 20 anos. A seu modo a sociedade brasileira vai afirmando suas instituições e seu modo político de ser.
5º Talvez se possa afirmar que a acirrada polarização eleitoral entre PT e PSDB apresenta-se como variável da mesma proposta do estado de bem-estar social, com algumas poucas diferenças programáticas. Porém, a contribuição que esta polarização eleitoral evidencia é a necessidade de intensificarmos os esforços em nos compreender como sociedade brasileira, na medida em que no calor do embate eleitoral ressurgem questões próprias do modo tupiniquim de ser, entre elas: o mito de nossa democracia racial; o mito do homem cordial; o fantasma do messianismo político; a tendência patrimonialista e clientelista do Estado brasileiro. Ainda nesta direção, quem vencer as eleições terá que enfrentar uma pauta política advindo das urnas: reforma política; reforma tributária; revisão do pacto federativo; meritocracia, eficiência, eficácia e, efetividade no serviço público; crise econômica mundial e, crescimento econômico nacional como garantia dos avanços sociais alcançados nos últimos 20 anos. A seu modo a sociedade brasileira vai afirmando suas instituições e seu modo político de ser.
Sandro Luiz Bazzanella – Professor de Filosofia e
Coordenador do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade
do Contestado.
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