terça-feira, 28 de outubro de 2014

ASPECTOS PARA UMA LEITURA DAS ELEIÇÕES 2014


Aspectos Para Uma Leitura das Eleições 2014

No domingo 26.10, milhões de brasileiros voltam às urnas. Em alguns estados votarão em segundo turno para governador e presidente da República.  Independente dos resultados finais do segundo turno, a democracia brasileira se fortalece superando contradições e paradoxos inerentes a esta forma de governo caracterizada pela vontade da maioria. Mesmo correndo o risco da precocidade da análise é possível estabelecer algumas considerações em torno de determinadas especificidades, senão singularidades no decorrer do processo eleitoral de 2014.
1º A propaganda eleitoral inicia após a desastrosa participação da seleção brasileira na copa do mundo, declamada, festeja pelos brasileiros amantes do futebol. Afinal, a sede da copa era o Brasil. O técnico era o experiente e, bonachão Felipão. Tínhamos o craque Neymar, que poderia desequilibrar a partida a qualquer momento. A torcida cantava o Hino Nacional a plenos pulmões. Festa verde/amarela. Mas, perdemos de 7 a 1 para Alemanha. Pensar é preciso. No período pré-eleitoral, durante a definição das alianças partidárias e, das candidaturas estávamos preocupados com as obras da copa, com os preparativos da seleção. Iniciamos o processo eleitoral de ressaca, meio sem saber o que de fato estava acontecendo. Talvez não estivéssemos afim de ouvir proposta política alguma depois de tamanha decepção com nossa seleção.
2º Nas primeiras semanas de campanha ocorre a trágica morte do candidato a presidente da república do PSB, Eduardo Campos. Irreparável perda de liderança política. Subitamente assiste-se a um fenômeno de comoção social que se desdobra numa espécie de messianismo político, elevando à vice-candidata na chapa do PSB, Marina Silva, a condição de candidata a presidenta, em substituição ao então candidato falecido. Mariana, “a iluminada” é elevada a índices eleitorais significativos. Projeta-se na candidata a almejada e sonhada mudança. Naquele momento eleitoral, apresentava-se a possibilidade de segundo turno com a candidata a reeleição, a presidente Dilma Russef. No bojo destes acontecimentos, Aécio Neves estagnava nas pesquisas, bem como sinalizava para o não alcance de sua candidatura no segundo turno.
3º Talvez Marina Silva não estivesse preparada suficientemente para os fatos e acontecimentos que a envolveram. Afinal, ela representa “A Rede Sustentabilidade”, uma espécie de organização que se pretende constituir como partido, abrigado temporariamente pelo PSB. Em seu discurso como candidata assume três argumentos melindrosos: a) A indefinida proposta da sustentabilidade; b) O escorregadio discurso da ética na política; c) A representante da “Nova Política” , que em tese nasceria de uma junção da velha política do PT no âmbito social e, da velha política do PSDB no âmbito econômico. É mais ou menos como se um casal de 70 anos resolvesse ter um filho. Até é possível, mas a situação apresenta-se dramática, estranha, fora de contexto. Não deu outra, a candidata murchou como uma flor (FHC) e, permitiu que os eleitores vislumbrassem em Aécio Neves a condição do segundo turno.
4º Dilma Russef (PT) e Aécio Neves (PSDB) alcançam a condição da disputa eleitoral para presidente em segundo turno. Polarização entre as duas siglas, que para Marina Silva representam a  velha política. Estranho, mas também compreensível o pragmatismo político da candidata da sustentabilidade, ao apoiar em segundo turno a candidatura de Aécio Neves, classificado dias antes como representante de uma das alas da velha política. Tal atitude demonstra que a nova política tem a necessidade da velha política para tentar se afirmar. Ou ainda, pode-se conjecturar que a nova política esta nascendo velha. A disputa do segundo turno apresenta-se acirrada. Talvez desde 1989, ano em que Collor e Lula disputaram o segundo turno da eleição presidenciável, não presenciávamos tamanha disputa. Enfim, viva a política. Na clássica definição do jurista alemão Carl Schmitt: “Na política somente existe amigo ou inimigo”.    
         5º Talvez se possa afirmar que a acirrada polarização eleitoral entre PT e PSDB apresenta-se como variável da mesma proposta do estado de bem-estar social, com algumas poucas diferenças programáticas. Porém, a contribuição que esta polarização eleitoral evidencia é a necessidade de intensificarmos os esforços em nos compreender como sociedade brasileira, na medida em que no calor do embate eleitoral ressurgem questões próprias do modo tupiniquim de ser, entre elas: o mito de nossa democracia racial; o mito do homem cordial; o fantasma do messianismo político; a tendência patrimonialista e clientelista do Estado brasileiro.  Ainda nesta direção, quem vencer as eleições terá que enfrentar uma pauta política advindo das urnas: reforma política; reforma tributária; revisão do pacto federativo; meritocracia, eficiência, eficácia e, efetividade no serviço público; crise econômica mundial e, crescimento econômico nacional como garantia dos avanços sociais alcançados nos últimos 20 anos. A seu modo a sociedade brasileira vai afirmando suas instituições e seu modo político de ser.


Sandro Luiz Bazzanella – Professor de Filosofia e Coordenador do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado.

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