segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A POLÍTICA NO MUNDO MODERNO OCIDENTAL



A POLÍTICA NO MUNDO MODERNO OCIDENTAL

No mundo moderno ocidental a política apresenta-se numa dimensão muito distante de sua gênese na Grécia Antiga, origem de nossa civilização. Entre os gregos, o exercício da cidadania exigia participar efetivamente, confrontando as ideias em discursos públicos na Polis, de modo a proteger e direcionar as ações públicas. Assim, o exercício da cidadania, a participação política em praça pública era condição de “imortalidade” e reconhecimento dos feitos do cidadão por gerações futuras. A vida pública era condição fim, a economia condição meio, pois esta última tinha relevância meramente em função da manutenção biológica da vida, enquanto que na dinâmica pública o cidadão se realizava, encontrava sua liberdade e felicidade, qualificando a existência no âmbito da cidade-comunidade (polis).

Na modernidade, que confere a dimensão temporal, política, cultural, social em que estamos inseridos, ocorre o inverso da polis grega com a concentração e especialização administrativa da vida por parte do Estado no exercício de seu poder soberano, cabendo aos cidadãos a tarefa primeira de cuidar da vida privada. Ou seja, na sociedade dos indivíduos que caracteriza a modernidade, o zelo pela dimensão biológica da vida, da longevidade, do acesso a bens de consumo, de realização pessoal pela aquisição de bens torna-se o mote que orienta e, confere sentido à vida. Para o filósofo italiano Giorgio Agamben (1942), a própria etimologia da palavra oikonomia em sua acepção grega: “economia da casa”, “conjunto das relações de produção que garantem a manutenção da vida biológica” ganha impulsos a partir dos pressupostos judaico-cristãos, presente de forma hegemônica no mundo medieval, mas cujos resquícios alcançam nossos dias. Nesses apresenta-se o paradoxo, por um lado a ação pública está em segundo plano, pois está vinculada a cidade dos homens e remete a um ônus, por outro é preciso viver nesse mundo “e nele conduzir-se por uma oikonomia da salvação”, rumo à cidade de Deus, destino final dos seres humanos junto ao criador.  Sob tais pressupostos a economia saí do espaço das sombras, da casa em que estava circunscrita no mundo grego antigo e, ganha a esfera pública, o espaço público, tornando-se na modernidade o epicentro da vida e das relações humanas em todas as suas dimensões.
Assim, a preferência pela primazia da racionalidade gestora da economia na modernidade apresenta uma ruptura com o modelo encontrado na Grécia Antiga. Nesta a política exercia primazia diante da economia, condição diferente na modernidade, visto o esvaziamento da vida pública perante a vida privada e o predomínio da economia sobre a política. A economia transformou-se em fim em si mesma. Convivemos com o declínio da “dimensão pública”, consequentemente a ascensão do paradigma moderno que avalia a felicidade do homem a partir de sua capacidade de consumo. O homem moderno sustenta uma felicidade na condição do processo infindável de produzir e consumir mercadorias.
A vida política está esvaziada, perdeu seu sentido original, a maior parte dos cidadãos dela não participa ativamente, desprezam o âmbito público e não se reconhecem no mesmo. O Estado institucionalizou a política, desde então passou a produzir um conjunto de saberes e técnicas capazes de garantir a consolidação da racionalidade econômica, condição imprescindível para a continuidade do afastamento da comunidade das decisões coletivas. O homem ocidental fundamenta-se no sonho de acumular riqueza, e nela pretende encontrar a felicidade, entende que ‘o trabalho dignifica o homem’.
Para a politóloga alemã Hannah Arendt a potenciação do desejo biológico, a afirmação da felicidade no imperativo econômico demonstra o desprezo pela principal obra humana, a capacidade de construir o mundo sob uma ordem “ética” e “estética”, marcada pela pluralidade que objetiva o comum, o “bem viver”. Agamben propõe superar a separação entre público e privado; profanar tudo que foi sacralizado e deixou o âmbito público; por fim reencontrar a obra humana e colocar em jogo a “política que vem”. É preciso repensar o modelo político vigente, trazê-lo para mais perto do cidadão de modo a ser esta a sua realização e condição de felicidade e liberdade.

Alvaro Junior Linhares Trentini
Acadêmico de Ciências Sociais
Participante do Projeto de Iniciação Científica Voluntário (PIVIC) em torno da temática: A teologia da economia como fundamento da economia financeirizada global e sua relação com o Estado.

Professor Orientador: Dr. Sandro Luiz Bazzanella

Coordenador Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional

Nenhum comentário:

Postar um comentário