A
POLÍTICA NO MUNDO MODERNO OCIDENTAL
No mundo
moderno ocidental a política apresenta-se numa dimensão muito distante de sua
gênese na Grécia Antiga, origem de nossa civilização. Entre os gregos, o
exercício da cidadania exigia participar efetivamente, confrontando as ideias
em discursos públicos na Polis, de
modo a proteger e direcionar as ações públicas. Assim, o exercício da
cidadania, a participação política em praça pública era condição de
“imortalidade” e reconhecimento dos feitos do cidadão por gerações futuras. A
vida pública era condição fim, a economia condição meio, pois esta última tinha
relevância meramente em função da manutenção biológica da vida, enquanto que na
dinâmica pública o cidadão se realizava, encontrava sua liberdade e felicidade,
qualificando a existência no âmbito da cidade-comunidade (polis).
Na
modernidade, que confere a dimensão temporal, política, cultural, social em que
estamos inseridos, ocorre o inverso da polis
grega com a concentração e especialização administrativa da vida por parte
do Estado no exercício de seu poder soberano, cabendo aos cidadãos a tarefa
primeira de cuidar da vida privada. Ou seja, na sociedade dos indivíduos que
caracteriza a modernidade, o zelo pela dimensão biológica da vida, da
longevidade, do acesso a bens de consumo, de realização pessoal pela aquisição
de bens torna-se o mote que orienta e, confere sentido à vida. Para o filósofo
italiano Giorgio Agamben (1942), a própria etimologia da palavra oikonomia em sua acepção grega: “economia
da casa”, “conjunto das relações de produção que garantem a manutenção da vida
biológica” ganha impulsos a partir dos pressupostos judaico-cristãos, presente
de forma hegemônica no mundo medieval, mas cujos resquícios alcançam nossos
dias. Nesses apresenta-se o paradoxo, por um lado a ação pública está em
segundo plano, pois está vinculada a cidade dos homens e remete a um ônus, por
outro é preciso viver nesse mundo “e nele conduzir-se por uma oikonomia da salvação”, rumo à cidade de
Deus, destino final dos seres humanos junto ao criador. Sob tais pressupostos a economia saí do
espaço das sombras, da casa em que estava circunscrita no mundo grego antigo e,
ganha a esfera pública, o espaço público, tornando-se na modernidade o
epicentro da vida e das relações humanas em todas as suas dimensões.
Assim, a
preferência pela primazia da racionalidade gestora da economia na modernidade
apresenta uma ruptura com o modelo encontrado na Grécia Antiga. Nesta a
política exercia primazia diante da economia, condição diferente na modernidade,
visto o esvaziamento da vida pública perante a vida privada e o predomínio da
economia sobre a política. A economia transformou-se em fim em si mesma. Convivemos
com o declínio da “dimensão pública”, consequentemente a ascensão do paradigma
moderno que avalia a felicidade do homem a partir de sua capacidade de consumo.
O homem moderno sustenta uma felicidade na condição do processo infindável de
produzir e consumir mercadorias.
A vida
política está esvaziada, perdeu seu sentido original, a maior parte dos
cidadãos dela não participa ativamente, desprezam o âmbito público e não se
reconhecem no mesmo. O Estado institucionalizou a política, desde então passou
a produzir um conjunto de saberes e técnicas capazes de garantir a consolidação
da racionalidade econômica, condição imprescindível para a continuidade do
afastamento da comunidade das decisões coletivas. O homem ocidental
fundamenta-se no sonho de acumular riqueza, e nela pretende encontrar a
felicidade, entende que ‘o trabalho dignifica o homem’.
Para a
politóloga alemã Hannah Arendt a potenciação do desejo biológico, a afirmação
da felicidade no imperativo econômico demonstra o desprezo pela principal obra
humana, a capacidade de construir o mundo sob uma ordem “ética” e “estética”,
marcada pela pluralidade que objetiva o comum, o “bem viver”. Agamben propõe
superar a separação entre público e privado; profanar tudo que foi sacralizado
e deixou o âmbito público; por fim reencontrar a obra humana e colocar em jogo
a “política que vem”. É preciso repensar o modelo político vigente, trazê-lo
para mais perto do cidadão de modo a ser esta a sua realização e condição de
felicidade e liberdade.
Alvaro Junior Linhares Trentini
Acadêmico
de Ciências Sociais
Participante
do Projeto de Iniciação Científica Voluntário (PIVIC) em torno da temática: A
teologia da economia como fundamento da economia financeirizada global e sua
relação com o Estado.
Professor
Orientador: Dr. Sandro Luiz Bazzanella
Coordenador
Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional
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