A
RELAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO, A POLÍTICA E O PODER SOBERANO.
Ao refletirmos a sociedade a partir do
sistema educacional, identificamos um paradoxo no que concerne a uma educação
direcionada para a constituição da cidadania e, ao mesmo tempo atendendo as
expectativas de uma formação preparatória para o mundo do trabalho. O paradoxo em questão se estabelece na
contemporaneidade, na medida em que, a técnica assume um fim em si mesmo e, na
dinâmica do dia-a-dia das escolas a sociedade impõe sobre os jovens, demandas
diversas para a sua inserção no mundo material da técnica e, por extensão do
trabalho. Tal condição apresenta-se em certa medida desvinculada de uma
educação que tenha como fim, o acesso à informação, ao conhecimento humano e
científico necessário para o desenvolvimento de atitudes inovadoras, criativas
e, empreendedoras. Esta realidade, ausente da reflexão nas escolas, entre os
educadores e, na própria sociedade tem distanciado os estudantes daquilo que é
a proposta original da educação na modernidade, que é a preparação do ser
humano para a cidadania, a saber, ação política no que diz respeito a autonomia
no protagonismo no fazer social em suas prerrogativas políticas, econômicas e
culturais.
Esta condição paradoxal necessita ser
debatida pela sociedade brasileira de forma ampla e irrestrita, se quisermos
proporcionar por meio da educação uma sociedade complexa e desenvolvida. Ou
dito de outra forma, análise esta que necessita transcender o senso comum e a
miopia política, no que diz respeito à profanação deste modelo de sociedade que
tem na escola um dispositivo de manutenção do poder hegemônico e, que concebe
os estudantes como recursos na dinâmica das sociedades de massa de plena
produção e pleno consumo.
A partir do reconhecimento,
da necessidade de colocarmo-nos diante dos desafios inerentes da dinâmica
do dia-a-dia da escola é que, se poderá pensar uma educação
voltada para a cidadania. Assim, por meio de ações criativas no envolvimento da
comunidade educativa escolar é que se fortalecerá a vitalidade da prática
política no âmbito local, tornando possível enfrentar este desafio,
que não assume a forma material, que não tem cor, tão pouco cheiro, mas que se
apresenta na possibilidade de mudança de um tempo que vêm a cada nova geração.
Situação esta que, não nos permite vivermos de forma estática, exigindo assim
de cada indivíduo em sociedade uma postura crítica e uma efetiva participação
nas relações sociais.
Conquanto, é na ausência desta participação
dos indivíduos na política local que se trava o processo de formação das
crianças e jovens, condicionando-os em um modelo de escola que reproduz um
campo de controle, bem como, de reprodução da apatia social, da ausência de
iniciativa e de empreendedorismo. Sistema educacional que se estrutura na
sobreposição da técnica e do mundo do trabalho sobre a cidadania. Ou dito de
outra forma, sistema educacional ineficiente e ineficaz no desenvolvimento de
uma educação para cidadania, tanto quanto para o mundo trabalho.
Sob todos estes pressupostos, torna-se imprescindível
a manutenção da formação política nas escolas, a partir de uma dinâmica que
envolva a comunidade educativa, e por extensão que se reverbere na vida pública
da cidade. Somente com a participação ativa do cidadão na vida pública - na
política - é que pode compreender e intervir com sensibilidade no movimento das
mudanças da vida social. Pois este processo é dinâmico e se apresenta nas
formas culturais, econômicas e políticas e, deve se contrapor ao poder
hegemônico padronizado e burocratizado imposto pelo Estado, que de forma
coercitiva reprime a vontade e a liberdade dos indivíduos.
Portanto, a partir da percepção de que a
escola deve ser um processo de preparação da criança para a autonomia na vida
em sociedade é que o filósofo contratualista franco-suiço
Jean-Jacques Rousseau (1712/1778) apresenta a relação entre: “Educação,
Política e Poder Soberano”, por meio da publicação concomitante das suas obras:
“Emílio” e “Do Contrato Social”. Para Rousseau, o poder soberano é entendido
como a ação do cidadão na comunidade política. Para o pensamento rousseauniano,
isso só será possível mediante a formação da criança em um cidadão autônomo, um
agente político capaz de participar da sociedade de forma crítica e emancipada,
livrando-se da corrupção imposta pelo poder hegemônico.
Este processo político com início na escola
tem por objetivo afastar a criança da corrupção social, garantindo que este ser
posteriormente faça parte aquilo que definimos como cidadania e que, Rousseau
chama em seu tempo, de vontade geral na formação do poder soberano. Pois para
este pensador, em uma sociedade que exista indivíduos críticos e engajados com
a política local, se garantirá a vitalidade da democracia, bem como, permitirá
que estes indivíduos gozem com autonomia da liberdade civil, pois estes
obedeceriam às leis sociais que eles mesmos criaram como emanação do poder
soberano.
Neste sentido, a escola assume papel central
na oxigenação da política na sociedade, pois ela deve garantir a formação das
crianças e jovens em cidadãos atentos ao movimento temporal, próprio de cada
nova geração. Ou seja, a partir deste mosaico de variáveis, a educação se
apresenta como aquilo que pode alienar e travar a estrutura social a partir de
um projeto de poder hegemônico ou, por meio de uma educação emancipatória,
poderá revitalizar as forças políticas locais, fortalecendo o ethos político do poder soberano.
WILSONEY GONÇALVES
Acadêmico de Ciências Sociais da Universidade do Contestado - UnC
Acadêmico de Ciências Sociais da Universidade do Contestado - UnC
Pesquisador PIVIC/UnC
Membro do Grupo de
Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben - CNPq
Membro do Grupo de
Pesquisa Descentralização e Federalismo –
CNPq
SANDRO LUIZ
BAZZANELLA
Professor Filosofia
da Universidade do Contestado - UnC
Coordenador Programa
de Mestrado em Desenvolvimento Regional
Líder Pesquisador PIVIC/UNC
Líder do Grupo de
Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben - CNPq
Nenhum comentário:
Postar um comentário