terça-feira, 6 de outubro de 2015

A ECONOMIA E A SUBSISTÊNCIA DO HOMEM


A ECONOMIA E A SUBSISTÊNCIA DO HOMEM 

Os peixes não sabem que existe a água. Porém, ela é sua condição vital.  Na atualidade a economia política constitui nossa forma de vida em tal magnitude e extensão que se constitui em tarefa quase impossível questioná-la em seu modo de funcionamento. Se por um lado exigimos ética nas relações sociais, na política, não passa pelo imaginário social exigir ética na economia. Para os Gregos Antigos que se encontram na gênese da civilização Ocidental, a economia estava restrita a esfera privada, da casa, das relações de manutenção da vida biológica.
Na Idade Média, a economia tinha a incumbência de garantir a subsistência da pessoa humana inserida na comunidade cujos esforços prioritários vinculavam-se a prática da virtude em função da promessa cristã de salvação. Na modernidade, a economia assumiu a centralidade do espaço público e comunitário, constituindo-se como determinante na forma de vida dos indivíduos e, das relações sociais. Sob tais pressupostos torna-se central refletir e procurar compreender como a economia se tornou nossa condição vital na atualidade.

A aceleração do consumo e as relações que se estabelecem no cenário econômico entre homem e mercadoria, no que diz respeito aos rumos do mercado mundial impactam diretamente nas sociedades. Demonstram que os sistemas de mercado exercem cada vez mais força sobre os rumos dos organismos sociais gerando desigualdades e exclusões. Sob tais pressupostos, a economia assume aspectos e características de um ser transcendente que dita às regras da vida do homem e justifica-se por si mesma intensificando as disparidades promovidas nesta dinâmica. Neste contexto é necessário questionar: quais seriam as origens deste pensamento? E a economia constituiria o fator primordial para a explicação das motivações e escolhas dos seres humanos?
Para compreender estas relações e como elas se estabeleceram faz-se necessário retomar alguns fatos históricos atrelados ao Estado. É preciso compreender como as sociedades transitaram da sua organização arraigadas na tradição, onde o fator econômico encontrava-se inserido nas relações sociais, e, em que momento as relações sociais passaram a ser orientadas pela economia.

O filosofo e historiador húngaro Karl Polanyi (1886-1964) atribui essas mudanças ao Estado absolutista que controlado pelo rei, legalizava as práticas antissociais e gananciosas. A ideia de gerar renda ao homem, para que ele pudesse adquirir terras. Com o advento da revolução industrial e, até os dias de hoje, a única forma de adquirir renda para quem não possui capital é vendendo sua força de trabalho e recebendo um salário para isso. Com a renda o homem pode adquirir terras. Essa relação no transcorrer da modernidade à atualidade transformou terra e trabalho em mercadorias. Nesta condição, surgem os mercados de trabalho – salário – renda – terra.
No contexto do Estado absolutista as terras permaneceram submetidas às práticas feudais e limitadas pela coroa.Com o fortalecimento das relações de produção posteriormente com as práticas de comércio exterior, o sistema de mercado tomou força. As relações de produção se estabeleceram onde os trabalhadores desprovidos de terras produziam mercadorias contribuindo para ao aumento da produção motivada pelo medo da fome. Os donos das empresas visavam o lucro e, diante disso o sistema se manteve em funcionamento.

Sob tais condições, os mecanismos de mercado começaram a regular estas relações econômicas e políticas que se tornaram indispensáveis à vida do corpo social. Para a economia o homem passa a ter sua vida regulada nos sistemas de mercado. Suas decisões e relações se consolidaram na dinâmica de consumo e produção.O ser humano torna-se apenas um meio para produzir. As sociedades passam a fazer parte dos sistemas econômicos e suas relações acontecem pautadas na economia, enquanto nas organizações sociais do passado, essas analogias eram inversas, sendo a economia parte das interações sociais.

Neste contexto, a dinâmica de mercado atribuiu-se a regulação das relações e seus desdobramentos geraram desigualdades no âmbito econômico da organização das sociedades. Quando os indivíduos são motivados a escolher algo, suas razões podem não ser apenas de cunho material, admitir um determinismo econômico é reduzir as relações sociais apenas as condições de trabalho – renda – terra, neste caso não se aplica como único fator de análise para definir o indivíduo e sua organização social.
O homem é dotado de sensações e prazeres e para além das condições culturais, éticas e morais, suas escolhas são motivadas por diversos fatores entre eles as experiências, que ocorrem de acordo com as interações com o corpo social no qual está inserido.Não obstante,a condição econômica não pode ser relacionada a somente uma determinante, mas a uma dessas interações que compõem as organizações sociais.

Publicado no Jornal Ótimo de Canoinhas em 02/10/2015

 Jucilene Paula Silva
Acadêmica de Ciências Sociais da Universidade do Contestado - UnC
Pesquisador PIVIC/UnC
Membro do Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben – CNPq

Orientador
SANDRO LUIZ BAZZANELLA
Professor Filosofia da Universidade do Contestado - UnC
Coordenador Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional
Líder Pesquisador PIVIC/UNC
Líder do Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben - CNPq

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