sábado, 11 de agosto de 2018


REDES SOCIAIS: SER OU

 APARENTAR SER?
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Séculos atrás não se imaginava uma integração de tamanha abrangência e rapidez no mundo. A Primeira Revolução Industrial foi responsável pela inovação e modernização nos meios de produção; a Segunda representou um avanço na ciência e tecnologia e a Terceira consolidou o que era esperado: desenvolvimento tecnológico. Ainda,  fenômenos como a Globalização provocam a diluição de fronteiras entre povos e países, promovendo a  integração a tal ponto que as mais variadas culturas parecem se tornar homogêneas. Esse processo também  é chamado por alguns especialistas de pasteurização cultural.

Nos últimos anos a criação de redes sociais ajudou a alavancar o processo de integração. Hoje, pode-se acompanhar, até mesmo em tempo real, o que nossos vizinhos estão fazendo ou o que uma moça de 23 anos, residente no Canadá, que vive divulgando marcas e é chamada de digital influencer, comeu no café da manhã. 
Entretanto, ao mesmo tempo em que conhecemos diferentes culturas, também  nos tornamos expectadores da vida alheia. Em decorrência disso,  nosso senso de competição e de autodesempenho desperta a sensação de impotência, visto todas as conquistas que nossos contatos nas redes alcançam diariamente.  Talvez a felicidade do outro seja a pulga atrás da orelha que nos instiga a pensar se somos realmente felizes, baseados nos modelos de felicidades que acompanhamos em nosso feed de notícias; ou, de maneira mais radical, a pulga que implanta a sensação de infelicidade, já que não temos o café da manhã da canadense ou nossa sala de estar não tem um tapete tão bonito quanto o de nossos vizinhos.
As conseqüências negativas de sermos facilmente influenciados pelas redes sociais não acabam por aí. O que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) denominou como modernidade líquida - caracterizada pelo individualismo e fragilidade impostos nas relações humanas - se perpetua por meio das redes sociais. Preocupados com o julgamento do outro sobre nossas ações, nos tornamos uma massa de modelar humana. Moldamo-nos de acordo com a intenção de julgamento que temos. Isso pode parecer necessário, visto que o eu puramente eu pode não agradar o chefe, o professor, o namorado/a.
Entretanto, essa modelagem de acordo com padrões de terceiros tira a individualidade de quem se propõe a tal ato. Quem se faz fantoche das vontades alheias reprime suas próprias vontades e, quem sabe, até mesmo sonhos. Desse modo, quanto custa a aceitação do outro? Ela é realmente necessária a ponto de deixarmos nossa vida de lado para aparentar ser o que os outros querem de nós? Para sermos um falso eu?
Outra questão recorrente quanto ao universo virtual, é o fato de que as relações estabelecidas em rede podem ser, além de falsas, como já citado, ilusórias. As interações com demais usuários dão a impressão de pertença a grupo, o que, aparentemente, não se alcança na vida real. Assim, ao passo em que nos inteiramos cada vez mais em grupos e atividades virtuais, esquecemos dos grupos e atividades que podemos desenvolver na vida real. Por exemplo, descartar a tentativa de integração com os colegas de trabalho em detrimento de algum grupo de conversas na internet; deixar de lado os encontros com os amigos para desfrutar dos jogos online. Ao mesmo tempo em que o indivíduo se sente  incluído em um meio virtual,  se exclui dos meios reais de comunicação e lazer. Essa é uma entre tantas ilusões  que a internet e as redes sociais nos proporcionam: achar que dentro do mundo virtual estamos mais ligados as pessoas. Porém, como estaremos mais ligados às pessoas, se elas podem ser as massas de modelar, se podem fingir ser quem não são? Como nossas relações são mais fortes via internet, se lá estamos todos buscando provar o quanto somos felizes em vez de sermos nós mesmos?
Felizmente, as coisas não estão perdidas. A internet continua sendo uma ferramenta fundamental para a integração, comunicação e aprendizado. O que se faz necessário, é aprender a dosar a interferência do mundo virtual no mundo real. É necessário tomar consciência de que a felicidade que o outro expõe, não significa a tristeza de quem está o acompanhando; saber que a vida é muito mais do que um prato bonito postado, ou uma declaração de amor feita em alguma rede social. A vida continua sendo real, no mundo real. A fome, a pobreza e os assaltos continuam sendo reais. Entretanto, o abraço, uma caminhada no parque e um sorriso também são reais. E ainda que pareçam gestos simples, fazem a diferença para nos lembrar que somos humanos, somos reais e é na realidade que podemos de fato viver.
      
Sandra Eloisa Pisa Bazzanella
3° ano 2 EM
Escola de Educação Básica Domingos Sávio – Ascurra SC
Sandro Luiz Bazzanella
Professor de Filosofia da Universidade do Contestado


2 comentários:

  1. Perfeito. desde que fui morar em Curitiba, passei a sentir o que é ser solitário na multidão. Mesma abordagem do texto, inegável a relevância da interação, inegável é a tristeza da solidão acompanhada.

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  2. Parabéns Sandra, meus respeitos à sua lucidez.

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