A SOCIEDADE BRASILEIRA DIANTE DE SI MESMA
TARsILA DO AMARAL - QUADRO - OPERÁRIOS - 1933
A dois dias do fim das eleições
presidenciais o país caminha sobre um atrator caótico. O Brasil do futuro é um
incerto sistema extremamente sensível às condições iniciais - condições estas
relacionadas diretamente ao resultado e consequências das eleições. O
espetáculo das fake news e da (des)informação tendenciosa coloca o país
em um ponto de tensão que tende a não findar passado o dia 28 de outubro. O
legado deixado pela temporada 2018 da imprevisível política brasileira
transcende os candidatos e suas propostas.
O que se
tem visto, além da polarização - fortalecida a partir das eleições de
2014 e consolidada nas de 2018 - é o inimigo em comum que os benfeitores
(ou falsos moralistas?) prometem combater: a corrupção. O fantasma da
corrupção, antropomorfizado nas figuras de partidos e políticos, talvez não
seja a maior dificuldade a ser enfrentada pelo governo que sucederá. Isto
porque combater a corrupção parece lição de casa. Lição desconsiderada pelo PSL,
pelo PT e demais partidos políticos.
Ainda com
o discurso do combate à corrupção, parte da população justifica seu voto à
candidatos extremistas. No momento delicado em que se vive, alguns justificam
seu voto a candidatos sem propostas baseados no discurso de que o referido
sepultará a corrupção enraizada na política. Entretanto, sem perceber que ela é
uma característica própria do jeitinho brasileiro - que ajuda a fugir da blitz
de trânsito, a comprar e vender mercadorias sem nota fiscal, enfim, no modo de
se locupletar com qualquer coisa possível, de maneira a burlar a legislação.
Com
discursos inflamados de repúdio à corrupção e adoração a determinados
candidatos, o povo demonstra ter perdido o senso de respeito à opinião alheia.
Qualquer um que defende partido A ou B já não merece viver no Brasil (paraíso
dos cidadãos de bem), e deve buscar abrigo em outros países. O preocupante,
dada tal situação, é a ameaça à democracia, visto que ela é o governo do povo e
este, certamente, possui opiniões distintas representadas em seus candidatos. A
não aceitação de opiniões e ideologias diferentes nos remete à sistemas
autoritários e o que parece ser ignorado é o legado de morte, perseguição e
tortura que tais sistemas deixam por onde passam, tomando-se como exemplo o
Nazismo de Hitler, o Fascismo de Mussolini e a Ditadura Militar instaurada em
1964 no Brasil.
Ademais,
para consolidar suas ideologias inflamadas, os comentaristas políticos das
redes sociais, cuja formação política vem das próprias redes, tendem a usar
informações distorcidas, fake news, ‘’verdades relativas’’, para
consolidar suas crenças e endeusar seus candidatos. O que se chama a atenção
aqui, é para o debate desprovido em argumentos, mas, situado em falácias. A
‘’ameaça comunista’’, e as demais ideias desarrazoadas deixam os participantes
e espectadores que creem nisso desinformados e embrutecidos, dada a falsidade e
a superficialidade dos raciocínios e de opiniões. A tentativa de afirmar uma
verdade universal e absoluta demonstra a falta de apreço pelo debate político,
até mesmo pela já citada democracia. Já dizia Nelson Rodrigues: ‘’toda
unanimidade é burra’’. Entretanto, em pleno 2018, verdades devem ser postuladas
e quem discordar deve ser linchado nos comentários que virão na sequência.
Sob tais perspectivas evidencia-se a dificuldade
de compreensão enfrentada pelo cidadão brasileiro que busca se informar apenas
por meio de noticiários televisivos e posts em redes sociais. Tais canais de
comunicação lançam o indivíduo a beira nas ficções messiânicas em curso,
enfraquecendo o debate em torno dos interesses públicos e enfraquece o debate
político. Para que este ocorra, é imprescindível a consciência de fatos
ocorridos, de interesses que estão em jogo e do fim do fanatismo.
Encaminhando-se para um cenário - mais -
conturbado nos próximos dias, é evidente que o Brasil já sofre com o legado das
paixonites agudas de eleição, com a cegueira popular. Esse contexto é resultado
do ódio pelo sistema político e pela implantação da ideia de que o Brasil
precisa de mais armas do que livros. Propostas são substituídas por ataques a
adversários, debates são substituídos por tweets (por mera estratégia de
campanha). A coragem e as propostas, necessárias para assumir um país e
torná-lo uma nação, parecem não estar presentes em todos os lados da eleição
presidencial.
Quem sofre as consequências disso é a
população. O senso comum que pode fazer leituras equivocadas baseadas em
(des)informação. Talvez anos seguirão para que tenhamos consciência da
importância da educação. Para que saibamos que assalariados da classe C não
representam os mesmos interesses que patrões da classe A. Embora todos busquem
um ‘’Brasil melhor’’, enquanto o primeiro reivindica condições dignas de
trabalho, moradia, acesso à educação, saúde, segurança e cultura, o segundo
quer se ver livre do controle estatal, para que possa explorar a mão de obra do
jeito que bem entender e, assim, consolidar-se como classe dominante.
Jaderson Guilherme Polli, 4ª Fase – Licenciatura em Física,
Instituto Federal Catarinense, Campus Rio do Sul - SC
Sandra Eloisa Pisa Bazzanella, 3º ano – Ensino Médio, E.E.B.
Domingos Sávio – Ascurra - SC
Ascurra, 25 de Outubro de 2018.
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