sexta-feira, 26 de outubro de 2018


A SOCIEDADE BRASILEIRA DIANTE DE SI MESMA

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                                                                                     TARsILA DO AMARAL - QUADRO - OPERÁRIOS - 1933

A dois dias do fim das eleições presidenciais o país caminha sobre um atrator caótico. O Brasil do futuro é um incerto sistema extremamente sensível às condições iniciais - condições estas relacionadas diretamente ao resultado e consequências das eleições. O espetáculo das fake news e da (des)informação tendenciosa coloca o país em um ponto de tensão que tende a não findar passado o dia 28 de outubro. O legado deixado pela temporada 2018 da imprevisível política brasileira transcende os candidatos e suas propostas.

         O que se tem visto, além da polarização -  fortalecida a partir das eleições de 2014 e consolidada nas de 2018  - é o inimigo em comum que os benfeitores (ou falsos moralistas?) prometem combater: a corrupção. O fantasma da corrupção, antropomorfizado nas figuras de partidos e políticos, talvez não seja a maior dificuldade a ser enfrentada pelo governo que sucederá. Isto porque combater a corrupção parece lição de casa. Lição desconsiderada pelo PSL,  pelo PT e demais partidos políticos.
         Ainda com o discurso do combate à corrupção, parte da população justifica seu voto à candidatos extremistas. No momento delicado em que se vive, alguns justificam seu voto a candidatos sem propostas baseados no discurso de que o referido sepultará a corrupção enraizada na política. Entretanto, sem perceber que ela é uma característica própria do jeitinho brasileiro - que ajuda a fugir da blitz de trânsito, a comprar e vender mercadorias sem nota fiscal, enfim, no modo de se locupletar com qualquer coisa possível, de maneira a burlar a legislação.
         Com discursos inflamados de repúdio à corrupção e adoração a determinados candidatos, o povo demonstra ter perdido o senso de respeito à opinião alheia. Qualquer um que defende partido A ou B já não merece viver no Brasil (paraíso dos cidadãos de bem), e deve buscar abrigo em outros países. O preocupante, dada tal situação, é a ameaça à democracia, visto que ela é o governo do povo e este, certamente, possui opiniões distintas representadas em seus candidatos. A não aceitação de opiniões e ideologias diferentes nos remete à sistemas autoritários e o que parece ser ignorado é o legado de morte, perseguição e tortura que tais sistemas deixam por onde passam, tomando-se como exemplo o Nazismo de Hitler, o Fascismo de Mussolini e a Ditadura Militar instaurada em 1964 no Brasil.
         Ademais, para consolidar suas ideologias inflamadas, os comentaristas políticos das redes sociais, cuja formação política vem das próprias redes, tendem a usar informações distorcidas, fake news, ‘’verdades relativas’’, para consolidar suas crenças e endeusar seus candidatos. O que se chama a atenção aqui, é para o debate desprovido em argumentos, mas, situado em falácias. A ‘’ameaça comunista’’, e as demais ideias desarrazoadas deixam os participantes e espectadores que creem nisso desinformados e embrutecidos, dada a falsidade e a superficialidade dos raciocínios e de opiniões. A tentativa de afirmar uma verdade universal e absoluta demonstra a falta de apreço pelo debate político, até mesmo pela já citada democracia. Já dizia Nelson Rodrigues: ‘’toda unanimidade é burra’’. Entretanto, em pleno 2018, verdades devem ser postuladas e quem discordar deve ser linchado nos comentários que virão na sequência.
Sob tais perspectivas evidencia-se a dificuldade de compreensão enfrentada pelo cidadão brasileiro que busca se informar apenas por meio de noticiários televisivos e posts em redes sociais. Tais canais de comunicação lançam o indivíduo a beira nas ficções messiânicas em curso, enfraquecendo o debate em torno dos interesses públicos e enfraquece o debate político. Para que este ocorra, é imprescindível a consciência de fatos ocorridos, de interesses que estão em jogo e do fim do fanatismo.
Encaminhando-se para um cenário - mais - conturbado nos próximos dias, é evidente que o Brasil já sofre com o legado das paixonites agudas de eleição, com a cegueira popular. Esse contexto é resultado do ódio pelo sistema político e pela implantação da ideia de que o Brasil precisa de mais armas do que livros. Propostas são substituídas por ataques a adversários, debates são substituídos por tweets (por mera estratégia de campanha). A coragem e as propostas, necessárias para assumir um país e torná-lo uma nação, parecem não estar presentes em todos os lados da eleição presidencial.
Quem sofre as consequências disso é a população. O senso comum que pode fazer leituras equivocadas baseadas em (des)informação. Talvez anos seguirão para que tenhamos consciência da importância da educação. Para que saibamos que assalariados da classe C não representam os mesmos interesses que patrões da classe A. Embora todos busquem um ‘’Brasil melhor’’, enquanto o primeiro reivindica condições dignas de trabalho, moradia, acesso à educação, saúde, segurança e cultura, o segundo quer se ver livre do controle estatal, para que possa explorar a mão de obra do jeito que bem entender e, assim, consolidar-se como classe dominante.  

Jaderson Guilherme Polli, 4ª Fase – Licenciatura em Física, Instituto Federal Catarinense, Campus Rio do Sul - SC
Sandra Eloisa Pisa Bazzanella, 3º ano – Ensino Médio, E.E.B. Domingos Sávio – Ascurra - SC

Ascurra, 25 de Outubro de 2018.


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