AS
SEXTAS-FEIRAS PARA PENSAR
(E MUDAR) O FUTURO
Em mais de 106 países, jovens aderem ao “Fridays
for Future” e paralisam as atividades escolares mensal ou semanalmente. Com
olhares renovados, eles querem participar da vida pública e discutir
estratégias para preservar o meio ambiente – e construir um outro mundo.
Em uma época de
fronteiras a defender, mobilizamo-nos para dizer que as fronteiras não existem
e que os problemas do mundo são os problemas de cada um. Em uma época de
individualismo e de concorrência, mobilizamo-nos para afirmar que somente
cooperando podemos sair do impasse. Em uma época de medo e de fechamento,
mobilizamo-nos para reiterar que a esperança no amanhã é forte e vigorosa e que
não há nada que possa impedi-la.
A última
sexta-feira (15/3) foi um dia histórico, cuja importância será sentida por um
longo tempo. É o início de uma época diferente, a abertura de um novo curso
para a política e a participação internacional. Uma época em que os
protagonistas absolutos são e serão os jovens, aqueles que somente agora estão
se assomando ao panorama da vida pública.
Pela
primeira vez, na onda da força de uma menina sueca de 16 anos, Greta Thunberg,
em todos os cantos do planeta eles sairam às ruas hoje para gritar aos
governantes que não há mais tempo a perder, que o tempo para inverter a rota
das mudanças climáticas cada vez mais ameaçadoras é agora. Caso contrário, não
haverá amanhã algum.
Mais de
1.700 eventos em muitas cidades em 106 países. Uma mobilização sem precedentes
que, em diferentes horários, viu a participação de milhões de crianças e jovens
de todas as idades, apoiados por todas as grandes organizações internacionais.
Da Anistia Internacional ao Greenpeace, passando pela WWF e pelo Slow Food.
Jovens que
entraram em greve da escola para afirmar que não faz sentido estudar, se depois
não se escutam aqueles que estudaram e que hoje nos dizem que estamos indo
forçosamente rumo ao abismo. Uma greve que, em muitos casos, será sustentada
pelos mesmos princípios, um caso absolutamente único.
É
extraordinário assistir a essa onda que cresceu e se espalhou muito nos últimos
dias, a partir de baixo, sem estruturas de coordenação pesadas, sem restrições,
com o único objetivo de levantar a grande questão do nosso tempo, a ambiental.
Uma urgência que continuou crescendo entre uma geração que talvez seja a
primeira a sentir “nas entranhas” essas demandas. Porque, se os da minha idade
analisam os estudos dos cientistas e, com base nisso, racionalmente, se
preocupam, esses jovens sentem dentro que não podem mais esperar, sabem que
devem exigir respostas agora.
Nestes
dias, eu me encontro na Espanha, e é realmente impressionante observar como a
comunhão de intenções transcende qualquer fronteira geográfica ou cultural. Na
sexta-feira, 15, em Bilbao, o encontro foi na frente da prefeitura, assim como
em Madri, Barcelona, Salamanca e Granada. Em Málaga, por outro lado, começa-se
às 19h, assim como em Valência. Todos unidos pela mesma faixa.
As Fridays
for Future, as sextas-feiras pelo futuro, começaram, mas não vão
parar. Muitos são os lugares onde, a partir de agora, a manifestação será
realizada semanal ou mensalmente. A partir de hoje, não se brinca mais.
Mobilização permanente, porque não temos outro planeta para viver, não temos
outro ambiente para respirar.
Obrigado,
moças e rapazes, pela esperança e pelos horizontes com que vocês estão nos
presenteando.
Carlo
Petrini é
chef italiano e fundador do movimento Slow Food.
Publicado 19/03/2019 às 14:45
Fonte: https://outraspalavras.net/outrasmidias/as-sextas-feiras-para-pensar-e-mudar-o-futuro/
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