Sociologia e Futebol
A
sociologia é uma ciência que estuda as relações que se estabelecem entre as pessoas que
vivem numa comunidade ou grupo social, ou entre grupos sociais diferentes que
vivem no seio de uma sociedade mais ampla. Esta definição encontramos no
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
O futebol, por ser uma atividade grupal e também social, tem merecido, de parte dos sociólogos, estudo mais profundo, para que entendamos melhor suas relações, quando se tem uma atividade social da mais alta relevância.
Murad relata na obra citada que "o futebol, como nossa paixão popular e esporte número um, encena um ritual coletivo de intensa densidade dramática e cultural, em consonância com a realidade brasileira. É a combinação de simbologias, por meio das quais podemos estudar o Brasil".
Simbologia
Quase de
forma antológica, Murad, diz que "o futebol é simbologia e metalinguagem,
e como tal, revelador das culturas das coletividades e revelador expressivo das
condições humanas. Albert Camus, Prêmio de Literatura de 1957, pensador e
especialista e ainda goleiro titular do RUA de Argel, disse: "...o
essencial para mim era jogar futebol: a bola era minha paixão e eu sapateava de
impaciência..." E assim conseguiu transferir para sua vida prática, todos os
conhecimentos obtidos no futebol, tais como: moral e obrigações que um homem
deve ter.
"De forma geométrica, sua circunferência que, de acordo com a concepção
clássica dos gregos, a forma geométrica perfeita, valor do inconsciente
coletivo, suprema representação espacial, à medida que enuncia a ética da
igualdade de oportunidades, pelo critério da eqüidistância, uma vez que todos
os pontos estão igualmente distantes do centro".
O futebol, oriundo da Inglaterra, chega ao Brasil de forma elitista e racista. Proibido aos negros, mestiços e brancos pobres, teve uma resistência enorme das classes dominantes, porém teve que curvar-se à insistência da grande maioria menos favorecida, tornando-se o esporte-rei e mais que isso, pela habilidade e magia de nossos atletas, um estilo de arte. Passes, dribles, fintas, a malemolência à ginga, coisas buscadas nas danças, na própria capoeira, cultura nossa, nos diferenciaram dos demais atletas do mundo inteiro.
Mário de Andrade, em crônicas de 1939: "Eu é que já estava longe, me refugiando na arte. Que coisa lindíssima, que bailado mirífico um jogo de futebol! Era Minerva dando palmadas num Dionísio adolescente e já completamente embriagado... Havia umas rasteiras sutis, uns jeitos sambalísticos de enganar, tantas esperanças davam aqueles volteios rapidíssimos..."
O futebol, mais do que prática esportiva, é uma oportunidade prática de se exercitar a cidadania. Portanto, mais do que constatação, interpretação e paradigma do Brasil, o futebol é proposta, é projeto e desejo da coletividade.
Roberto Da Matta, em Antropologia do óbvio: notas em torno do significadosocial do futebol brasileiro, in Dossiê Futebol, Revista USP, jun/jul/ago 1994, diz "As raízes do futebol se espalham pelas esferas da realidade social, pois, diferentemente de outras instituições, o futebol reúne muita coisa na sua invejável multivocalidade. É uma estrutura totalizante em sua acepção teórica".
Segundo Murad, para os deficientes, oferece uma gama extraordinária de chances de participação social, como meio de integração e reeducação.
Janet Lever, em A Loucura do Futebol, Editora Record, 1983, cita que "Em uma das obras clássicas da Sociologia, Émile Dürkheim sugere que a religião é menos importante como um conjunto específico de crenças e divindades do que como uma oportunidade para a reafirmação pública da comunidade... Apesar da ausência de vínculos sangüíneos, os homens da tribo sentem que estão relacionados entre si porque partilham um totem. O culto a uma equipe esportiva, como o culto a um animal, faz com que todos os participantes se tornem altamente conscientes de pertencerem a um coletivo. Ao aceitarem que uma equipe em particular os representem simbolicamente, as pessoas desfrutam um parentesco ritual, baseado neste vínculo comum".
O imprevisível e a improvisação, que parecem diferentes, são marcantes no
futebol. Transportando para as relações sociais no Brasil, torna-se difícil a
improvisação e as noções de imprevisibilidade na vida diária de nosso povo.
O futebol é para os brasileiros, um misto de necessidades imediatas e práticas
de luta e obtenção de resultados e objetivos e ao mesmo tempo a expressão de alegria e da
arte popular, expressando uma sintonia entre o individual e o coletivo, dentro
e fora dos gramados. Para exemplificar o exposto acima, vejamos: "eu sou colorado"
ou "eu sou gremista".
Eu = individualidade
Sou = identidade
Time =
coletividade
Na Copa do Mundo, a maior comprovação sociológica, é que o brasileiro é capaz, independente da camada social, de organizar-se nas ruas e espaços comunitários para numa ação conjunta mostrar toda a sua cidadania.
As três instituições mais presentes na vida brasileira são um templo religioso a cadeia pública e o campinho de futebol, independente do lugar ser pequeno, médio ou grande. Às vezes falta a cadeia ou o templo religioso, porém o campo de futebol está sempre presente, sendo o espaço público mais perene da vida brasileira.
O futebol e a música popular brasileira andam juntos desde os anos 30, levando
o futebol para o campo de sua poesia e fez dele protagonista ou coadjuvante de
importantes letras. Músicas de Carnaval e marchinhas falaram de futebol, pois
Carnaval e futebol além de possuírem identidade histórica, são manifestações
populares das mais sérias que este país possui.
Jober Teixeira Júnior é professor e titular das cadeiras de Futebol e Futsal da Facos (RS)
Comentarista da Guaiba
Coordenador da Ulbra.
Comentarista da Guaiba
Coordenador da Ulbra.
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