Reflexões
sobre os 100 primeiros dias de 2015 (II)
De árvores e florestas
Localizar-se em meio a uma floresta quando
se está perdido não é tarefa que se possa realizar de forma afoita. Ao observar
excessivamente as árvores perde-se a compreensão da floresta em sua variedade
de espécies e, em sua disposição topográfica. Ao observar apenas a floresta
desconhece-se a diversidade e a disposição das árvores na composição da mata. Em qualquer uma das iniciativas a possibilidade de andar em círculos e não alcançar o destino almejado é significativo. Talvez, esta metáfora ajude a explicar o fenômeno da agressividade verbal expressa por parte das pessoas, sobretudo nas redes sociais em relação às lideranças políticas que governam o país. Tais posicionamentos e formas de expressão não contribuem para qualificar a democracia que tanto se reivindica como solução para todos os problemas públicos e privados inerentes a constituição da sociedade brasileira. Mas, também se pode conjecturar que formas agressivas de expressão demonstram o desconhecimento do que de fato é ou pode ser uma democracia, que transcende qualitativamente a mera opinião pública motivada e potencializada pela intensidade dos meios de comunicação de massa.
desconhece-se a diversidade e a disposição das árvores na composição da mata. Em qualquer uma das iniciativas a possibilidade de andar em círculos e não alcançar o destino almejado é significativo. Talvez, esta metáfora ajude a explicar o fenômeno da agressividade verbal expressa por parte das pessoas, sobretudo nas redes sociais em relação às lideranças políticas que governam o país. Tais posicionamentos e formas de expressão não contribuem para qualificar a democracia que tanto se reivindica como solução para todos os problemas públicos e privados inerentes a constituição da sociedade brasileira. Mas, também se pode conjecturar que formas agressivas de expressão demonstram o desconhecimento do que de fato é ou pode ser uma democracia, que transcende qualitativamente a mera opinião pública motivada e potencializada pela intensidade dos meios de comunicação de massa.
Ainda nesta
direção, talvez seja oportuno observar, que parte significativa destas pessoas
talvez não possam ser caracterizadas como vozes que expressam posicionamentos
da ultra-direita, ou paradoxalmente de uma direita “radical”, se é que ainda
faz sentido falar de direita e de esquerda no contexto de hegemonia da economia
política financeirizada global em que estamos vivendo. Talvez sejam vozes que
se expressam a partir da observação das árvores. Suas rancorosas expressões
representam a incapacidade (muito bem distribuída no senso comum dos brasileiros)
de reconhecer e compreender o que de fato está acontecendo. Ou seja, de que participar de uma democracia
requer que se tenha presente a constante tensão nas relações de poder entre os
diversos grupos sociais e seus interesses no controle e condução das estruturas
estatais.
A partir destes
pressupostos é importante ter presente que a linha de argumentação que segue
está desprovida da pretensão sobre a “verdade” dos fatos, ou de se apresentar
como explicação conclusiva dos fenômenos políticos, econômicos e sociais em
curso na cena brasileira. Mas, por outro lado de apresentar algumas
perspectivas de análise que serão aprofundadas e debatidas nos próximos artigos
desta série. Sob tais perspectivas, partimos da constatação que estamos imersos
numa crise política e econômica, ou dito de outra forma, estamos em meio a
uma crise da economia-política que
justificou até o presente momento a racionalidade governamental a frente do
Estado brasileiro no decurso das últimas duas décadas do século XX, bem como da
primeira década do século XXI. Esta crise possui uma variável estrutural que
advém da crise da economia financeira global, que em 2008 se apresentou a
partir da crise do sistema imobiliário norte-americano espraiando-se pelo
sistema financeiro da Europa e, chegando aos mercados financeiros asiáticos,
sobretudo, a China. Num primeiro momento assistimos a quebra no ritmo de
crescimento dos mercados financeiros centrais, impactando sobre toda dinâmica
produtiva dos Estados Unidos, dos principais países da comunidade européia e,
dos países emergentes, sobretudo os Brics (Brasil, China, India, Rússia e
África do Sul). Assim, inicialmente contornamos o impacto da crise com
financiamento estatal do mercado interno de produção e consumo. Porém, agora nos
deparamos com os limites deste financiamento pela escassez dos recursos e, por
extensão da capacidade estatal/governamental de manter as linhas de financiamento.
A crise financeira da economia definitivamente chegou e esta em nosso meio.
A outra variável
estrutural da crise se apresenta no modelo de democracia representativa de
massas. Estamos diante de um aparente esgotamento do modelo político partidário
sobre os quais se estrutura e se legitima as formas de governo, demarcando
insatisfação generalizada por parte dos indivíduos partícipes da sociedade da
informação. Ressalte-se que esta crise não é uma exclusividade brasileira, na
medida em que se manifesta em inúmeros países europeus entre outros. Indivíduos
com acesso há informações apresentam-se menos tolerantes em relação a
precariedades no trato com a coisa pública. Tornam-se mais exigentes com a
qualidade dos serviços públicos e, com a gestão dos recursos. Também não se
sentem representados por partidos, bem como não demonstram mínima intenção em
vincular-se no plano das ideias e, por extensão no plano da prática a uma
organização partidária. O que passa a ter sentido é a aproximação com algumas
ideias, ou propostas do candidato, ideais que às vezes podem se vincular
especificamente a um segmento social, como acesso a saúde, acesso ao crédito a
baixos juros, ao meio ambiente, à segurança, à educação, à garantia dos níveis
de consumo, entre outras.
Destas variáveis
estruturais da crise desdobra-se no cenário nacional uma crise conjuntural nas
seguintes direções entre outras: a)
crise do modelo político eleitoral marcado por extensas alianças de cunho
pragmático em função da partilha do poder no âmbito do poder legislativo e
executivo; b) crise advinda dos efeitos deletérios do processo eleitoral do
2014; c) crise da proposta governista da centralização e do protagonismo
estatal marcado pelo paradoxo da distribuição da riqueza, em que por um lado
remunera generosamente o sistema financeiro e, por outro distribui bolsas as
camadas menos favorecidas da população; d) crise advinda da postura apática dos
partidos de oposição na apresentação de propostas diferenciais ao modelo
governista; e) crise advinda da precariedade dialógica do governo com a
sociedade em seus diversos segmentos, com suas lideranças empresariais, sindicais,
políticas; e) crise advinda do fato de que a política apresenta-se reduzida a
gestão dos contratos e das garantia de segurança ao capital sobre seus
investimentos e, de garantia aos indivíduos de acesso a renda e ao consumo.
Talvez se possa
dizer que estamos diante do fechamento de um ciclo político e econômico, para
nos mantermos alinhados com o caráter cíclico de nossa trajetória histórica. Estamos
naqueles momentos em que não sabemos muito bem o que fazer, para onde ir, ou a
que distância está a outra margem. Pensar, refletir e se esforçar para
compreender o que de fato esta ocorrendo seguramente é a tarefa que se
apresenta aos cidadãos no tempo presente.
Sandro
Luiz Bazzanella
Professor de
Filosofia e Coordenador do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da
Universidade do Contestado. Lider do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em
Ciências Humanas – CNPq.
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