A PRODUÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO A PARTIR DE
AUSCHWITZ
(artigo publicado no Jornal Correio do Contestado - 06 de junho de 2015 - Ano XIV - Edição 550 - espaço Opinião)
Leitores,
apresento uma reflexão em torno da educação e por extensão da sociedade. Este
artigo, expõem duros mas necessários apontamentos na tentativa de compreender a
realidade de nossas escolas, tendo como parâmetro, os efeitos do campo de
concentração nazista. Neste caso, o campo de concentração de Auschwitz.
Nesta
direção, a reflexão que trago, segue amparada na obra: “Educação e Emancipação”
do alemão Theodor Adorno, mais especificamente ao capitulo em que ele
apresenta: “Educação após
Auschwitz”. Texto este que é transcrito de uma
palestra transmitida na rádio de Hessen, em 1965.
Contudo,
antes de avançarmos na aproximação dos nossos educandários e os campos de
concentração, rapidamente faz-se valer um resgate histórico, do porque
Auschwitz se tornou de forma paradigmática, o modelo de eficiência da técnica
na modernidade, bem como o porquê que se demonstra como o auge da racionalidade
instrumental do homem.
Somente
no campo de concentração, que compreendia o complexo de Auschwitz no sul da
Polônia, estima-se que tenham sido exterminadas 1,5 milhões de pessoas nas
câmaras de gás. Apenas este dado demonstrou que, o uso da técnica,
não acompanhada de uma postura crítica dos indivíduos, possibilitou a indústria
da morte, totalizando cerca de 6 milhões de vidas extirpadas nos campos de
concentração durante o holocausto.
O
campo de Auschwitz foi o maior entre os dois mil campos de concentração e de
trabalhos forçados, por isso se tornou o símbolo da barbárie, pois produziu uma
linha de produção, que passava pela desumanização do ser humano, uniformizando
os indivíduos e lhes tirando a liberdade. Foi assim que, o III Reich promoveu a
gestão técnica da vida e da morte. Utilizando-se de procedimentos padronizados
e, com o avanço das tecnologias e da ciência, produzir o horror com máxima eficácia
econômica de recursos, inclusive aproveitando os cadáveres como matéria-prima
para a industrial de sabão.
Logo,
para entendermos os motivos pelos quais a civilização ocidental produziu o
holocausto, é preciso perceber as influências daquilo que constitui o próprio
ser humano, a saber, a violência, a vaidade e a avidez pelo poder. Elementos
ontológicos que são centrais para entendermos este panorama, mas que só se
efetivou na medida em que se promoveu o avanço da técnica frente à ausência de
uma consciência crítica dos seres humanos.
Adorno
chama a atenção para o uso desta mesma técnica instrumentalizada na base da
educação. Pois esta faz com que o homem não alcance a emancipação, tendo em
vista que ao estar engendrada a dinâmica do agir técnico político, se tornou um
dispositivo de controle das massas, viabilizando a promoção dos experimentos mortais
em que o próprio ser humano foi a cobaia.
A
ausência de uma visão crítica sobre a técnica e a incapacidade de lidar com a
liberdade, compõem as variáveis que fazem com que as pessoas aceitem as
autoridades externas, a exemplo das religiões, de políticos e das ideologias nacionalistas
extremas. Essas autoridades manipulariam as pessoas a partir daquilo que lhes é
mais caro, “vendendo-lhes uma ideia de prosperidade, de felicidade e de
liberdade, desde que hajam conforme ideais padronizados e preestabelecidos”.
Pressupostos estes que, na ausência de uma consciência crítica viabilizou as
atrocidades dos campos de concentração no holocausto.
Adorno explica que Auschwitz tornou-se o ponto
paradigmático da modernidade, devido à “consciência
coisificada” das pessoas. Fenômeno que molda uma sociedade de
massa em um status quo, que vê nas
tecnologias um fim em si mesmo. O que leva alguns
seres humanos a tal frieza em suas relações, a preferirem a companhia das
máquinas em vez de outro ser humano e, por conseqüência equipararem os próprios
seres humanos a coisas, ou seja, passiveis de serem objetos de descarte.
Pode-se
dizer então que “A PRODUÇÃO DE UMA
EDUCAÇÃO A PARTIR DE AUSCHWITZ”, ainda encontra-se funcionando, ao passo
que nossas as escolas reproduzem a “linha de produção” na formação de
opressores (professores), que reprimem a força vital singular das crianças,
uniformizando-as. Reproduzindo diariamente nas salas de aula a
ausência de consciência e impondo às crianças já nos primeiros
anos, a perda de sua individualidade em nome da uniformização junto ao
coletivo. Assim, a escola reproduz um modelo técnico que possibilita o
controle, a não emancipação, a massificação e a alienação do ser humano.
Criticas duras que Adorno realiza por entender que
a educação é a condição de se combater a barbárie que se perpetua dentro das
escolas. Para o pensador, somente a partir de uma educação crítica e emancipatória
é que se poderá enfrentar o silêncio que se mantêm frente ao terror, à
manipulação das massas, o apequenando
o espírito humano no processo de alienação e opressão dos
indivíduos.
Refletindo de forma aberta e sem
pudor, seguimos profanando a rigidez do pensamento hegemônico e utilizando-se do olhar crítico de Filósofos e
Sociólogos é que, seguimos destacando a importância de uma educação
politizadora, no que concerne o enfrentamento às propostas totalizantes de
cunho ideológico para o controle do ser humano. Assim seguimos,
propondo não esgotar as possibilidades analíticas, continuamos avançando nos
próximos encontros.
Wilsoney
Gonçalves
Professor
de Sociologia do Ensino Médio
Membro
do Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben – CNPq
Membro
do Grupo de Pesquisa Descentralização e Federalismo – CNPq
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