segunda-feira, 17 de agosto de 2015

EDUCAÇÃO E TRAGÉDIA NACIONAL



EDUCAÇÃO E TRAGÉDIA NACIONAL


É óbvio leitor que este título tem a intenção de prender sua atenção por alguns minutos. Mas, seria apenas um recurso literário se os números não evidenciassem o que o mesmo sugere: a condição trágica do Ensino Médio brasileiro. Pasmem! “Apenas 11% dos estudantes que terminam o terceiro ano do ensino médio estão tendo aprendizado apropriado em matemática.”  “Quando o aprendizado é avaliado em língua portuguesa o desempenho é um pouco melhor, embora ainda seja muito baixo.
Os alunos que terminam o ensino médio (3º ano) com aprendizagem adequada são apenas 28,9%”.Os dados fazem parte do relatório "De olho nas Metas", elaborado anualmente por um grupo de especialista e interessados em educação, com o sugestivo nome: “Todos Pela Educação” em publicado em maio deste ano.
Ou seja, 89% dos alunos que concluem o Ensino Médio não compreendem suficientemente a matemática e, 71,1% têm dificuldades com a língua pátria. O que menos importa neste momento diante desta trágica estatística é saber quem são os culpados. Afinal, apontar responsáveis é ato contínuo do senso comum. É culpa do governo. Dos professores. Da família. Da escola. Da televisão... Alguém assume a responsabilidade, desonerando a sociedade brasileira de refletir o que esta fazendo com seus jovens, com seus recursos, com as oportunidades que se apresentam.
Ora vejamos. Ao chegar no 3º ano de Ensino Médio este jovem passou 13 anos nos bancos escolares. Mesmo que não tenha cursado uma escola de turno integral (estamos ainda na fase de experiências isoladas), ou seja, apenas meio turno, matutino ou vespertino, a formação deste jovem demandou considerável investimento público e social. Na administração doméstica, para não entrar na esfera empresarial, quem de nós se satisfaz com o desperdício dos recursos de que dispõe? Com investimentos sem o retorno desejado? Com investimentos de baixa qualidade e, consequentemente de duvidosa rentabilidade? Porque a sociedade brasileira aceita passivamente o anúncio da baixa rentabilidade humana e social dos investimentos educacionais realizados ao longo de quase uma década e meia na juventude deste país? Seria, uai por causo que nóis gosta de fala anssim de quarqué jeito home? O é ece tar de português cumpricado...?
Os custos do descaso, do desperdício não param com a conclusão do Ensino Médio. Eles adentram na Universidade, que consumirá na melhor das hipóteses dois semestres para situar parte destes jovens diante das exigências qualitativas do ensino e da pesquisa. Adentram o mercado de trabalho que terá que investir mais recursos e tempo para qualificação profissional. Educação de baixa qualidade incide e potencializa o “Custo Brasil”. O custo da baixa competitividade, da deficiente criatividade, da parcimoniosa inovação, do atraso.
Desde os Gregos, fundadores da nossa civilização a dois mil e quinhentos anos atrás sabemos (?) que a matemática e o português são linguagens que permitem aos seres humanos a apropriação do mundo em sua totalidade.  O português através de sua estrutura gramatical, bem como a matemática através de seus modelos abstratos conferem aos seres humanos as habilidades lógicas (logos = discurso = conhecimento), para pronunciar o mundo a sua volta, bem como modificar a natureza, fabricar objetos necessários a existência. Além disso, possibilitam a ação conjunta na esfera das relações humanas na construção de um mundo adequado aos anseios, necessidades e o bem viver humano.
A precariedade do aprendizado da matemática e do português no Ensino Médio, além de revelar a má aplicação dos recursos públicos e sociais, revela a trágica condição de brasileiros, em pleno mundo globalizado, na aurora da segunda década do século XXI, o século do conhecimento, de analfabetos funcionais. O analfabetismo funcional se caracteriza pelos limites do logos, da capacidade interpretativa, analítica e discursiva sobre o mundo, sobre as ações humanas determinantes da vida em sociedade. E assim a caminha a história da humanidade... O gigante despertou, mas ainda não sabe para onde quer ir... e para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve... Que “deus nos ajude... se ainda for brasileiro.”

Prof. Sandro Luiz Bazzanella – Professor de Filosofia da Universidade do Contestado, do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional. Coordenador do Curso de Ciências Sociais e Pesquisador do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas – Cnpq.
Artigo Publicado no Jornal Diário do Planalto em Canoinhas em 2013

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