EDUCAÇÃO E TRAGÉDIA NACIONAL
É óbvio leitor que este título tem a
intenção de prender sua atenção por alguns minutos. Mas, seria apenas um
recurso literário se os números não evidenciassem o que o mesmo sugere: a
condição trágica do Ensino Médio brasileiro. Pasmem! “Apenas 11% dos estudantes
que terminam o terceiro ano do ensino médio estão tendo aprendizado apropriado
em matemática.” “Quando o aprendizado é avaliado em língua portuguesa o
desempenho é um pouco melhor, embora ainda seja muito baixo.
Os alunos que
terminam o ensino médio (3º ano) com aprendizagem adequada são apenas 28,9%”.Os
dados fazem parte do relatório "De olho nas Metas", elaborado
anualmente por um grupo de especialista e interessados em educação, com o
sugestivo nome: “Todos Pela Educação” em publicado em maio deste ano.
Ou seja, 89% dos alunos que concluem o
Ensino Médio não compreendem suficientemente a matemática e, 71,1% têm
dificuldades com a língua pátria. O que menos importa neste momento diante
desta trágica estatística é saber quem são os culpados. Afinal, apontar
responsáveis é ato contínuo do senso comum. É culpa do governo. Dos
professores. Da família. Da escola. Da televisão... Alguém assume a
responsabilidade, desonerando a sociedade brasileira de refletir o que esta
fazendo com seus jovens, com seus recursos, com as oportunidades que se
apresentam.
Ora vejamos. Ao chegar no 3º ano de
Ensino Médio este jovem passou 13 anos nos bancos escolares. Mesmo que não
tenha cursado uma escola de turno integral (estamos ainda na fase de
experiências isoladas), ou seja, apenas meio turno, matutino ou vespertino, a
formação deste jovem demandou considerável investimento público e social. Na
administração doméstica, para não entrar na esfera empresarial, quem de nós se
satisfaz com o desperdício dos recursos de que dispõe? Com investimentos sem o
retorno desejado? Com investimentos de baixa qualidade e, consequentemente de
duvidosa rentabilidade? Porque a sociedade brasileira aceita passivamente o
anúncio da baixa rentabilidade humana e social dos investimentos educacionais
realizados ao longo de quase uma década e meia na juventude deste país? Seria,
uai por causo que nóis gosta de fala anssim de quarqué jeito home? O é ece tar
de português cumpricado...?
Os custos do descaso, do desperdício não
param com a conclusão do Ensino Médio. Eles adentram na Universidade, que
consumirá na melhor das hipóteses dois semestres para situar parte destes
jovens diante das exigências qualitativas do ensino e da pesquisa. Adentram o
mercado de trabalho que terá que investir mais recursos e tempo para
qualificação profissional. Educação de baixa qualidade incide e potencializa o
“Custo Brasil”. O custo da baixa competitividade, da deficiente criatividade,
da parcimoniosa inovação, do atraso.
Desde os Gregos, fundadores da nossa
civilização a dois mil e quinhentos anos atrás sabemos (?) que a matemática e o
português são linguagens que permitem aos seres humanos a apropriação do mundo
em sua totalidade. O português através de sua estrutura gramatical, bem
como a matemática através de seus modelos abstratos conferem aos seres humanos
as habilidades lógicas (logos = discurso = conhecimento), para
pronunciar o mundo a sua volta, bem como modificar a natureza, fabricar objetos
necessários a existência. Além disso, possibilitam a ação conjunta na esfera
das relações humanas na construção de um mundo adequado aos anseios,
necessidades e o bem viver humano.
A precariedade do aprendizado da
matemática e do português no Ensino Médio, além de revelar a má aplicação dos
recursos públicos e sociais, revela a trágica condição de brasileiros, em pleno
mundo globalizado, na aurora da segunda década do século XXI, o século do
conhecimento, de analfabetos funcionais. O analfabetismo funcional se
caracteriza pelos limites do logos, da capacidade interpretativa,
analítica e discursiva sobre o mundo, sobre as ações humanas determinantes da
vida em sociedade. E assim a caminha a história da humanidade... O gigante
despertou, mas ainda não sabe para onde quer ir... e para quem não sabe para
onde vai, qualquer caminho serve... Que “deus nos ajude... se ainda for
brasileiro.”
Prof. Sandro
Luiz Bazzanella – Professor de Filosofia da Universidade do Contestado, do
Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional. Coordenador do Curso de
Ciências Sociais e Pesquisador do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em
Ciências Humanas – Cnpq.
Artigo
Publicado no Jornal Diário do Planalto em Canoinhas em 2013

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