MERENDA ESCOLAR
Uma política de
fortalecimento local
(artigo publicado no Jornal Correio do Contestado - 8 de agosto de
2015 - Ano XIV - Edição 554 - espaço Opinião)
Entendendo uma
crise como um momento de revisão e de oportunidades para novas ações, reconheça-se
que, ao se falar de uma sociedade capitalista, a crise é constante e necessária
para valorização da criatividade humana. Nesta direção, a crise chama a atenção
para a necessidade de cuidarmos melhor do nosso dinheiro, sobre tudo no que diz
respeito ao dinheiro que é público.
Na esteira deste
fato, este artigo tem por objetivo aproveitar o momento econômico que o Brasil
e o mundo estão vivenciando, para analisar uma política pública que é
estratégica para os governos e, para a dinâmica do “arranjo social” que, nesta
perspectiva significa as relações que se estabelecem entre as pessoas,
associações, empresas, cooperativas, poder público entre outras organizações de
uma localidade ou região. Política esta popularmente denominada de “Merenda
Escolar”.
Na aplicação
desta política pública, o governo estadual de Santa Catarina investiu no ano de
2014 mais de 100 milhões de reais, sendo que, R$ 553.709,10, deste montante
foram pagos a uma empresa com sede no estado de São Paulo, que forneceu a merenda
apenas para quatro escolas estaduais no município de Papanduva/SC.
Conquanto, paradoxalmente
a esta realidade, lembramos os leitores que a função das Secretarias Regionais
– SDR´s é de promover a descentralização das políticas, fortalecendo o
desenvolvimento cultural, político e econômico de cada região. Em oposição a esta
lógica, o governo Raimundo Colombo centralizou a política de merenda escolar, aplicado
os recursos fora das regiões e em alguns casos, fora do próprio estado.
Soma-se a estes
argumentos o desrespeito do governo estadual a legislação, que norteia esta
política em todo o país, a saber, a lei nacional nº 11.947/2009, que no Art. 2º, apresenta as diretrizes da alimentação escolar e mais
especificamente nos incisos IV e V, destaca o papel da sociedade local para a
produção da alimentação escolar, assim como no controle social, no
acompanhamento das ações, e que, o poder público tem a obrigação de promover o
apoio ao desenvolvimento local, com incentivo técnico e financeiro para a
aquisição da merenda escolar produzidos de forma regional, preferencialmente
pela agricultura familiar.
É preciso em momentos de crise ter criatividade e sobre tudo vontade
política para promover os ajustes seja qual for à área. Neste caso, mais de
meio milhão de reais o governo
estadual em 2014 investiu fora do município de Papanduva. Investimento que poderia
ter sido utilizado para fomentar a economia local, atenuando os efeitos da
crise na cidade e no planalto norte. Além de impulsionar políticas públicas
nesta região que é a mais carente no estado, a exemplo da política de
abastecimento de merenda escolar pela agricultura familiar, entre muitas outras.
O governo do
estado deveria a partir das SDR e da gerência de educação chamar para este
debate, potencializar o arranjo social local, sindicatos, associações e
cooperativas de agricultores familiares, além do poder público como as
secretarias de agricultura, de administração e de educação dos municípios, empresas
de assistência técnicas como EPAGRI e CIDASC, além das Universidades, IFSC, entre
outras organizações públicas e da sociedade civil, garantindo os espaços de concentração social, a fim de qualificar
as políticas públicas.
Política pública
esta que inicialmente atenderia as demandas das escolas, mas que é estratégica
para o fomentando da produção de alimentos. Na sequencia poderia ampliar o
atendimento para hospitais, feiras, cozinhas comunitárias, refeitório de
empresas, restaurantes e mercados, dentre outros espaços de comercialização. Ou
seja, a partir do arranjo social, tornar-se-ia esta política pública de “merenda escolar, uma política de
fortalecimento local”, podendo se desdobrar em ações de industrialização,
integrando a produção da agricultura familiar, promovendo a diversificação e a maior
sustentabilidade nas propriedades agrícola, criando oportunidades turísticas,
reduzindo a evasão do meio rural e proporcionando um ambiente de geração de
emprego e renda no campo e na cidade.
Assim,
reconhece-se que, uma crise é um momento oportuno para refletir o sistema vigente
e que, aquilo que parece sem importância pode ser, com criatividade, um
importante dispositivo de autonomia política, de qualificação do arranjo social
e de qualificação da vida, basta ter vontade política e responsabilidade com o
que é público.
FABIANA
RICARDO BUDANT
Acadêmica do Curso de Ciências Sociais
Pesquisadora PIBIC/UnC
Membro do Grupo
de Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben – CNPq
WILSONEY
GONÇALVES
Professor de
Sociologia do Ensino Médio
Pesquisador
PIVIC/UNC
Membro do Grupo
de Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben – CNPq
Membro do Grupo
de Pesquisa Descentralização e Federalismo – CNPq
Nenhum comentário:
Postar um comentário