segunda-feira, 28 de setembro de 2015

CONTRAPONTOS DO SISTEMA DEMOCRÁTICO


CONTRAPONTOS DO SISTEMA DEMOCRÁTICO


A melhor forma de governo sempre foi uma questão presente para a tradição da filosofia política até a contemporaneidade. Mas, como pensar a melhor forma de governo, sem antes pensar no reconhecimento do cidadão como cidadão, como parte da Polis? O reconhecimento só é possível quando se manifesta nas relações entre o cidadão e o Estado, sendo está a sua representação.
A democracia como representação da maioria, legitima o poder soberano do  Estado. Como representação da maioria subentende-se que exista liberdade política e, que toda a articulação envolvida está para suprir a necessidade material da sociedade. Contudo, a incompreensão desta condição é nociva e, potencializa dúvidas em relação a possibilidade da democracia em suprir satisfatoriamente as demandas de participação da sociedade, pois, poderá conferir poder à alguns, e esses constituírem-se de forma legal no exercício da soberania.
O instrumento da potência da democracia se posiciona com a aplicação de lei. As leis  são frutos da expressão social e de sua necessidade. Porém, no decorrer da história, as sociedades humanas e suas demandas passam por modificações. Assim, a democracia modifica-se também, desde o interesse pela política, quanto a efetiva participação nela. A diretriz envolvida na modificação posiciona-se com os interesses do cidadão no interior do regime democrático. É interessante pensar também que a democracia ao longo da história do ocidente entrou em diversos momentos em conflito de modo a variar com a natureza das tensões características daquele contexto, fato esse que pode demonstrar a fragilidade de nosso atual regime.
O ser humano em sua natureza demonstra conflitos de interesse, sendo assim suscetível a persuasão, o que pode levar a desilusões, ou aquelas formas de manifestação na contemporaneidade marcadas pela apatia, por manifestações apolíticas. Dentro desse processo, para analisar o sistema democrático e sua potência há necessidade de transcrever o objeto que concede poder aqueles que irão representar a ideologia dos cidadãos. Este objeto pode ser o voto, ele é a demonstração da sociedade em sua capacidade envolver-se na dinâmica que define as diretrizes da mesma, de forma representativa.
Entendido dessa forma, o voto deveria ser expresso e assumido depois de longa reflexão. Porém, há um conflito de ideais, propostas futuras, e negação da realidade. Os cidadãos frustram-se com o candidato que eles elegeram, também negam fazer parte da corrupção. Mas, aquela ajudinha individual dada na época da eleição, a gasolina do carro, a dentadura, corrompe o cidadão e, por extensão a sociedade. Vende sua alma na eleição e, depois demonizam o político em sua ineficiência, ou envolvido em escândalos.
Pensar a condição social é a possibilidade da análise do real, de evitar fechar os olhos ao que está na frente, ou ainda, o que está oculto frente aos olhos. A hierarquia política atual, em primeiro momento pode confundir o cidadão em relação a quem exerce o poder. Assembléias e convenções não fazem sentido se não há envolvimento das partes mais interessadas, daquelas que votam para fazer funcionar o instrumento da democracia. A ausência de envolvimento em alguns processos faz com que a democracia representativa fique à mercê de um potencial risco, da perca de sua dinâmica, no sentido de que o cidadão haja de forma contraposta na medida em que não há um reconhecimento do cidadão por parte do sistema.
Assim, a presente análise reflete o que é a democracia e o que é vivenciado atualmente. Ou ainda, procura demonstrar o resultado de contrapontos do que é a democracia, a medida que convenções e contradições sociais a colocam em risco. Sendo assim, o questionamento da filosofia política permanece ativo, a medida que posterior a todas as modificações, o cidadão não se reconhece em seu sistema e nos representantes escolhidos por eles, e tal fato resulta na falta de participação no processo que deveria ser efetivado a partir da decisão da maioria. Assim, os cidadãos que estruturam justificam o sistema não se reconhecem nele, consequentemente não sentem representados por ele.

Artigo publica no jornal Ótimo – Canoinhas – 25/09/2015.

Luana de Oliveira
Acadêmica de Ciências Sociais da Universidade do Contestado - UnC
Pesquisadora PIVIC/UnC
Membro do Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben – CNPq

Sandro Luiz Bazzanella
Professor Filosofia da Universidade do Contestado - UnC
Coordenador Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional
Líder Pesquisador PIVIC/UNC
Líder do Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas/Giorgio Agamben - CNPq

Um comentário:

  1. Muito interessante o artigo quando reflete, que o pensar a condição social é a possibilidade da análise do real, de evitar fechar os olhos ao que está na frente, ou ainda, o que está oculto frente aos olhos. A hierarquia política atual. Observar a realidade, é não só refletir como agir, dentro da possibilidade de cada um, fazer acontecer.

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