REFLEXÕES DE ALEXIS DE
TOCQUEVILLE SOBRE A DESCENTRALIZAÇÃO E O PODER LOCAL EM BUSCA DA LIBERDADE DE
AÇÃO POLÍTICA
Ao
analisar a concepção de descentralização e de poder local do filósofo e jurista
Frances Alexis de Tocqueville (1805-1859) expresso em sua obra: “A Democracia
na América” constata-se que sua percepção aristocrática de democracia reconhece
sua dimensão liberal, ao apresentá-la como uma teoria de interesse bem
compreendido através de um conceito de liberdade.
Conceito que nos faz rever
nos pensadores clássicos passagens e fragmentos que possam contribuir para a
compreensão das condições sociais, políticas e econômicas em que estamos
inseridos na atualidade.
Ao
estudar a conformação societária da sociedade americana, Tocqueville analisa de
forma pragmática “ensinamentos dos quais
pudéssemos tirar proveito” (TOCQUEVILLE, 1977, P. 19). Assim,
a partir dos pressupostos da Ciência Política, cabe ressaltar o déficit
referente à inclusão da dimensão “poder local” na teoria do Estado moderno.
Para Aristóteles a polis (cidade-comunidade)
era a condição primordial como comunidade política que visava ao mais
importante de todos os bens, onde o homem enquanto animal social poderia chegar
ao auge de seu desenvolvimento, participando de uma vida melhor.
Baseando-se
nesse conceito de ação política, Tocqueville nos apresenta essa liberdade
efetivada principalmente em pequenas nações, que possuem costumes mais simples
e tranquilos, onde o amor pelo país passa a ser mais intenso. O filósofo
francês ressalta os limites da liberdade política no contexto da sociedade
moderna de massa. É com desconfiança que Tocqueville vê a consolidação da
sociedade pequeno-burguesa sob pressupostos democráticos, principalmente por
temer a perda da grandeza, da glória e da liberdade.
Alexis de
Tocqueville parte da tese de que nas democracias de massas o igualitarismo
estaria em vias de se consolidar e de se generalizar, conduzindo a sociedade de
massas rumo a mediocridade, colocando em risco a liberdade e, preparando o
caminho para a servidão e o despotismo. Tal condição levaria necessariamente ao
declínio da liberdade em consequência do aumento do igualitarismo como fim
último a ser alcançado. Tocqueville em sua obra supra-citada, apresenta a
igualdade entre os colonizadores norte-americanos como ponto de partida, a
partir do qual os indivíduos em suas relações sociais competem cooperativamente
na constituição de si mesmos.
Para
enriquecer os debates atuais no contexto das propostas de descentralização
político-administrativa, Tocqueville aposta no conceito de conscientização da
prática política com o intuito de racionalizar os processos de tomada de
decisões. O jurista francês enfatiza sua prioridade a mudanças de consciência e
de valores, mostrando-se contrário a estratégias institucionalistas,
enfatizando o comunitarismo e ao engajamento dos cidadãos nas questões de
interesse público. Para ele, a liberdade independente da condição social,
corresponde basicamente a uma modalidade do agir político, onde a liberdade só
teria chance de se perdurar, quando compreendida como um bem em si mesmo.
Acontece
que nas sociedades onde o gosto pela liberdade não consegue acompanhar o avanço
do igualitarismo, os homens preocupam-se em fazer sua fortuna particular, em
detrimento a prosperidade de pública, conduzindo à um desprezo dos indivíduos pelo
interesse supremo, ou mesmo o bloqueio da ação política e do engajamento
público, haja vista o consumismo, o conformismo e o imediatismo predominante
nas sociedades igualitárias.
Não obstante a tudo isso,
Tocqueville identifica uma outra tendência que ameaça a autonomia do cidadão: a
centralização do poder governamental. Valorizando sobremaneira a pequena
comunidade política, chega-se a um consenso de que só esta pode proporcionar a
solidariedade indispensável para a preservação da liberdade política,
atribuindo assim ao engajamento do cidadão em nível local valor fundamental não
apenas para a democracia local em si, mas também para dar sustentação a
democracia em âmbito nacional.
Um
aspecto a ser ressaltado nas percepções de Tocqueville é o fato da
centralização torna-se a foram de governo natural dos povos democráticos, pois
esses são favoráveis a concentração de poder. Acontece que com o fortalecimento
do individualismo, observamos a despolitização da vida pública nas sociedades
modernas, haja vista a agitada vida privada cheia de desejos, trabalhos e
necessidades de sobrevivência. Não sobra aos indivíduos tempo suficiente e energia
para a vida pública.
Para
Tocqueville, o comportamento, as convicções e os hábitos individuais e socais são
sujeitos a mudanças. Podem ser cultivados, ou podem pouco a pouco estiolar. É
por meio da prática do agir político que
as almejadas virtudes políticas podem desenvolver-se. Nesta perspectiva, talvez
o maior problema para a sobrevivência das democracias contemporâneas é
crescente distanciamento entre governantes e governados esvaziando a substância
do processo democrático. Tal condição, o limita a um espetáculo eleitoral em
que periodicamente a cada quatro anos grupos de interesses competem entre si
pelos votos do eleitorado, legalizando nas urnas o direito de governar
majoritariamente a partir de interesses que em sua condição não contemplam com
efetividade e intensidade as demandas públicas.
Fabiana
Ricardo Budant
Acadêmica
do Curso de Ciências Sociais
Bolsista
do projeto de iniciação científica “Aspectos teóricos e conceituais que
fundamentam os discursos e as práticas do desenvolvimento regional”.
Orientador
Prof.
Sandro Luiz Bazzanella
Professor de Filosofia e Coordenador do Programa
de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado.

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