É PRECISO AJUDAR O “RICARDO” A PENSAR UMA
PROPOSTA EDUCACIONAL CONSISTENTE
As melhores lições são
as da história. E o que a história pode nos ensinar? Muitas coisas, mas,
sobretudo, compreender variáveis do mundo em que nos encontramos inseridos.
Entre estas variáveis está o fato de que os seres humanos não evoluem. Desde
tempos imemoriais sentimos medo, fome e, frio. Disputamos o pão, um pedaço
terra. Fazemos esforços para acumular riquezas, mais energia para sermos mais
competitivos em relação ao nosso vizinho, ao concorrente. Olhamos com
estranhamento aquele que é diferente de nós. Se ele se aproximar excessivamente
reagimos. A intensidade da reação se dará na mesma medida da intensidade do
estranhamento.
Os seres humanos em
determinadas circunstâncias demonstram solidariedade. Altruísmo. Em situações
limites estão dispostos a entregar a própria vida para salvar outra vida. Mas,
o inverso também é verdadeiro. Os seres humanos são capazes de cometer as
maiores atrocidades e violências. Dizimam-se uns aos outros. Desconsideram o
sofrimento alheio, quando não o intensificam aos limites da suportabilidade.
Afinal, o que é o homem? O que é o ser humano? Evidentemente não se trata aqui
de defesa de um pessimismo antropológico. Muito menos de um otimismo antropológico,
mas de reconhecer que o desenvolvimento das potencialidades do humano está
intimamente vinculado a uma proposta educacional consistente. Ou dito de outra
forma, a educação é o único caminho para afirmação da socialidade humana, bem
como, estratégia eficiente e eficaz para alcançar significativos
desenvolvimentos que proporcionaram à comunidades e povos consistência
civilizacional.
Uma sociedade que
almeje alcançar a civilidade necessita cuidar de suas crianças, de seus
adolescentes e de seus jovens. As jovens gerações são o bem mais precioso que um
povo possui. Nesta perspectiva, uma nação, um povo, uma comunidade que almeja
distinção civilizatória necessita assumir a responsabilidade de constituir uma
proposta educacional consistente que apresente o mundo de forma intensa,
instigante e motivadora das potencialidades constitutivas de cada educando em
sua singularidade. Ademais também é preciso ter presente que a educação
necessita ser internalizada como continuo esforço de aprendizado e qualificação
da vida e das relações ao longo de toda sua trajetória.
Sob tais pressupostos,
a consistência de um projeto educacional de extensão nacional pode ser
alcançada se observarmos e respeitarmos algumas condições, entre elas: 1ª A
educação deve ser pública, gratuita e de qualidade. É um direito de todos os
brasileiros (Constituição de 1988); 2ª Respeito as especificidades locais,
regionais e estaduais, descentralizando os debates e os encaminhamentos
educacionais. A centralidade de Brasília
na gestação e implementação de propostas públicas está fadada a resultados
parciais em função da desconsideração das especificidades antropológicas,
climáticas, sociais, políticas, econômicas e culturais locais; 3ª É preciso
envolver a sociedade local, regional e nacional no debate e na ação em prol de
uma educação de qualidade compreendendo definitivamente de que educação não é
“despesa”, mas “investimento”. Ou seja, uma proposta
educacional consistente precisa observar detalhes que são cruciais, afinal o
inferno reside nos detalhes, entre eles:
a) Os prédios das
escolas precisam ser repensados em sua estrutura arquitetônica. É preciso
abandonar a arquitetura da fábrica e do presídio e pensar o prédio e os espaços
da escola a partir da lógica do Shopping Center. Atraente. Limpo. Higienizado.
Tecnológico. A arquitetura é a mais pública das obras de arte. Conviver com o belo
permite à criança desenvolver senso estético, o apreço pela beleza das formas,
do pensamento e das ações.
b) É preciso implementar a escola em período
integral, com currículo definido, bem como com grade de atividades
complementares fundamentais na formação dos educandos ao longo de todo o
período de permanência na escola.
c) Estudantes precisam
ser bem alimentados. Estudar consome muita energia associado ao fato de que
estão em fase de crescimento e desenvolvimento de seus corpos.
d) É imprescindível
que a escola tenha uma boa biblioteca. O apreço pelos livros se desenvolve a
partir do manuseio, do contato cotidiano com os mesmos. Laboratórios são
imprescindíveis na relação teoria e prática. Internet e novas tecnologias
necessitam ser disponibilizadas a partir de consistente projeto pedagógico aos
educandos.
e) E, sobretudo é
preciso que a escola seja o centro das atenções da comunidade educativa.
Direção, professores, pais, funcionários e todo e qualquer cidadão precisam
acompanhar, cuidar, estimular e prestigiar o ambiente escolar. Conferir apoio às iniciativas educacionais.
Acompanhar os índices alcançados pelas escolas nos exames de avaliação
nacionais. Sugerir mudanças em todos os aspectos que se fizerem necessários
para que a escola se apresente como referência de promoção de conhecimento e de
formação de qualidade.
f) Disponibilizar bolsas
de estudo para os jovens carentes que freqüentam o ensino médio permitindo que
possam dedicar tempo integral aos estudos evitando que se lancem
desesperadamente ao mercado de trabalho, situação que contribui sobremaneira
para o abandono da escola.
g) Desenvolver
programas de orientação aos jovens para que possam livremente fazer escolhas
pós-ensino médio entre a continuidade dos estudos em âmbito profissionalizante,
adentrar para a universidade.
h) Disponibilizar
bolsas de estudo para estudantes universitários de baixa renda para o alcance
da excelência de sua formação acadêmica e profissional.
4º Todos os aspectos
acima mencionados necessitam vir
acompanhados da valorização da atividade docente. É urgente que a
sociedade brasileira reconheça que o desprezo, o descaso e a desconsideração do
professor compromete o desenvolvimento da sociedade local, regional e nacional
em sua totalidade. Assim, a valorização
do professor é o segundo pilar de afirmação de uma proposta educacional
suficiente. Valorizar o profissional da educação significa:
a)
Piso
salarial equivalente a outras carreiras entre elas: médicos, membros do judiciário, militares,
políticos do legislativo e do executivo. São funções cujas responsabilidades
são equivalentes. Aliás, o trabalho de sala de aula é o resultado de horas e
dias de estudos, pesquisas e preparação. E, sobretudo, de extensas horas de
correção de avaliações e mensuração dos resultados obtidos pelos educandos, bem
como de elaboração de diagnóstico das deficiências de aprendizagem e o
realinhamento de programa de ensino.
b)
A
equiparação salarial é fundamental para que professores também possam ter
acesso aos bens culturais necessários à sua atividade profissional, entre eles:
ter assinatura de revistas de sua área de conhecimento. Ter assinatura de
jornal de circulação nacional e estadual para se manterem informados e
atualizados. Ter condições ter acesso à internet de qualidade, ao teatro, ao cinema, a viagens de estudo e
pesquisa.
c)
É
preciso que professores, assim como membros judiciários, deputados, senadores,
entre outros, tenham acesso ao auxílio para compra de livros. Os membros do judiciário
possuem auxílio moradia, auxílio saúde, auxílio educação... É uma necessidade
intransferível que os professores tenham auxílio compra de livros para seus
estudos e pesquisas. É uma aberração o fato de professores que necessitam comprar
um livro para seus estudos tenham que retirar recursos de seu mísero provento
mensal.
d)
É
preciso que os professores tenham um plano de carreira, bem como um tratamento
previdenciário diferenciado em função da natureza de sua atividade profissional
ser o fundamento de qualquer proposta civilizacional. É preciso extinguir a
condição de contrato temporário na educação. Desconsiderar tal condição é
perpetuar a estratégia obtusa e anti-civilizatória há muito afirmada e
reproduzida nestas terras.
e)
É
preciso um programa de progressão salarial para os professores baseado em sua produtividade e
publicação científica. Tal estratégia premiará professores dedicados a pesquisa
e publicação das mesmas, permitindo que cada um componha seu salário para além
do piso a partir de seu comprometimento com a pesquisa. Ademais esta estratégia
permitirá o acompanhamento da produtividade dos professores sem a necessidade
de custos com a realização de exames e provas.
Mas, você deve estar se perguntando: de onde podem
vir os recursos para tudo isto se o estado brasileiro acumula déficit? Responderei
como Messias, que está entre nós e atende pelo nome de Guedes: “Simples!” Vamos
equiparar os salários dos professores aos dos membros do judiciário, militares,
políticos do legislativo e do executivo, cortando pela metade os salários
destas categorias privilegiadas. Repartiremos com os professores as passagens
áreas que os congressistas têm direito de usufruir para retorno aos seus
estados semanalmente. Afinal, com todas as regalias à disposição, não deve ser
tão ruim assim ficar em Brasília por quinze dias. Cortaremos o auxílio de
mudança que deputados e senadores possuem ao iniciar, ou encerrar um mandado,
entre tantas outras regalias que aqui poderiam ser anunciadas. Evidente
que necessitaremos de mais recursos.
Implante-se tributação sobre grandes fortunas. Cobrem-se dividendos dos lucros de
bancos e empresas com faturamento líquido acima de 1 bilhão de reais ao ano.
Prioridade de financiamento público para pequenas e médias empresas que
investirem em escolas, em bibliotecas e laboratórios escolares, em bibliotecas públicas,
entre outras iniciativas assemelhadas.... “Tá ok”.
É urgente que a sociedade brasileira e, sobretudo
nossos dirigentes, abandonem os slogans de campanha, obtusidades como “escola
sem partido”, “criacionismo”, entre outras pérolas deste gênero. Consumir
recursos públicos com debates desta natureza é crime de lesa pátria diante dos desafios
à constituição de uma proposta educacional consistente. Ou dito, de outra
forma, o problema não é cantar ou não o
Hino Nacional. O problema é compreender que o Hino Nacional é a expressão das
exigências e urgências nacionais para que se alcance uma condição civilizatória
decente, de uma nação suficientemente desenvolvida e respeitosa em relação as
demandas de seus filhos, bem como em relação aos outros povos e países. Salve!
Pátria Amada Brasil!
Dr. Sandro Luiz Bazzanella
Professor de Filosofia
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